Ao liderar o G-20 (grupo que reúne países exportadores agrícolas subdesenvolvidos), o Brasil entrou com tudo na luta pelo fim dos subsídios aos ricos agricultores do Primeiro Mundo, que recebem bilhões em ajuda financeira de seus governos. Tendo a Organização Mundial do Comércio (OMC) como foro das contendas, o Brasil obteve recentemente duas vitórias acachapantes: primeiro contra os bilhões dados aos plantadores de algodão dos EUA e depois contra a pesada ajuda européia aos produtores de açúcar. O caso do algodão foi emblemático. Em junho de 2004, a OMC, a pedido do Brasil, considerou ilegais os subsídios do governo americano aos produtores de algodão. Os EUA recorreram a todas as instâncias e não cumpriram o prazo estabelecido. Após ameaça de retaliação de US$ 1 bilhão do governo brasileiro, os americanos cederam e tomaram medidas para acabar com a prática. Isso possibilitou um acordo entre os dois países que suspendeu a arbitragem da retaliação.

No acordo, Washington pediu mais tempo ao Brasil. O fim do programa Step 2, a forma mais escancarada de subsídio, em que o governo paga a diferença entre o preço mais alto do produtor americano e o menor, do brasileiro, está nas mãos do Congresso. A previsão é que a prática seja abolida no segundo semestre de 2006. “Do jeito que estava era impossível competir. Mas temos que ficar atentos para que eles não eliminem o Step 2 e criem outro no lugar”, diz Hélio Tollini, diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão. Somente entre 1999 e 2002, o subsídio ao algodão americano trouxe prejuízo de US$ 480 milhões à agricultura brasileira. E isso não aconteceu somente aqui. Diversos países miseráveis da África também sofrem com o problema. Na última reunião da OMC, em Hong Kong, ficou agendado o fim dos subsídios agrícolas para 2013. Um prazo tão longo para uma questão tão urgente.