16/10/2002 - 10:00
Jornadas exaustivas e uma agenda de enlouquecer? Se não se pode, ou não se quer, diminuir o ritmo de trabalho, a solução é incrementar o local de trabalho e fazer dele um reconfortante oásis. É o que perceberam profissionais antenados com a importância da qualidade de vida. Eles têm abusado da criatividade para construir ambientes agradáveis e divertidos e amenizar as agruras do dia-a-dia. Sergio de Paula, 43 anos, presidente da Carioca Comunicação, no Rio de Janeiro, é um dos adeptos da nova tendência. Ele fez de sua agência um tributo à cidade. “Eu queria uma empresa com o espírito do Rio. O carioca é bem-humorado e criativo, sem deixar de ser sério quando precisa”, define. Logo na entrada, uma carrocinha de pipoca da década de 60, ainda em funcionamento, e um ovo estrelado (logomarca da empresa) na parede antecipam o clima. No piso, as pedras portuguesas, como no calçadão de Copacabana, fazem um combinado com uma réplica em ferro do Pão de Açúcar presa à parede. Os resultados da irreverência não tardaram a aparecer. Em apenas três anos de atuação, a Carioca virou uma das agências mais premiadas da cidade. Para De Paula, a explicação é simples. “Quando o clima é agradável, a produtividade cresce e o investimento se multiplica em retorno e sorrisos.” E ninguém confunde liberdade com libertinagem. “Não me incomoda encontrar funcionários dançando ou jogando sinuca, mas quero os projetos no prazo e com excelência”, avisa o chefão.
Mas a irreverência não pára por aí. De Paula adora brincar em serviço. Uma mesa de sinuca profissional foi colocada bem no meio de modernos computadores. Um piano de cauda contrasta com um galão de alumínio de mate, preciosidade na hora do lanche. “Às vezes circulo servindo mate para os funcionários. Já usei esse galão até para caipirinha num happy-hour”, conta o dono da agência. Em sua sala não podia ser diferente: a mesa de reunião é uma porta antiga, com dez cadeiras em estilos completamente distintos. Uma geladeira de botequim virou um armário e a iluminação fica por conta de um poste de luz de tamanho reduzido. De Paula diz que costuma beber cerveja e obrigar os visitantes a acompanhá-lo. “Honro o meu patrocinador”, brinca, apontando para a barriga protuberante e referindo-se a um cervejaria holandesa, sua cliente. O ponto mais charmoso é o pitoresco Botequim Carioca, local de pausas estratégicas durante o expediente. Os visitantes aprovam. “Toda hora tem alguém pedindo emprego atraído pelo clima de trabalho. Nas rodas de samba, chorinho e bossa nova que fazemos depois do horário, também conquistamos novos clientes. Eles ficam fascinados pelo ambiente”, enfatiza.
Outro que gosta de ousar é Sergio Horovitz, 39 anos, diretor da Proview Produções, no Flamengo, também no Rio. Frequentador assíduo de ferros-velhos, Horovitz guarda tudo o que encontra pela frente e faz questão de pôr a mão na massa para decorar a produtora. “Não consigo jogar nada no lixo. Sei que algum dia vou dar utilidade a todos os bagulhos. Sempre que me livrei deles, me arrependi”, conta. O aspirante a decorador mistura cacarecos nordestinos, câmeras fotográficas antigas e uma série de engenhocas decorativas criadas por ele, montando um cenário de filmes cult. “Minha vida é criar, sempre gostei de coisas loucas e valorizo bugigangas. Com essa brincadeira, acabei tomando gosto pela decoração.”
O cartão de visitas da Proview é uma televisão da década de 50 transformada em aquário. Mas o que causa frisson mesmo são as ilhas de edição. Uma delas reproduz o filme Blade Runner com tubos de aço, fusíveis e arames. Outra, apelidada de Jurassic Island, lembra o desenho animado dos Flintstones. “Quero fazer uma ilha de edição inspirada numa loja de brinquedos e outra em uma auto-estrada, com placas pelas paredes e faixa contínua no piso”, projeta Horovitz. Nem os banheiros escaparam da mania de inovar. Um deles, com manequins enfeitados de plumas, perucas, meias-arrastão e cintas-liga, foi apelidado de toalete das prostitutas. O outro faz uma alusão às praias cariocas. Tem areia, biscoito de polvilho, guarda-sol, sorvete e até balde com pá de plástico.
O lazer propriamente dito não foi esquecido. Além do salão de jogos com cesta de basquete, sinuca e fliperama, a produtora tem um aconchegante café parisiense, onde geladeiras da década de 30 dão um toque nostálgico. “As pessoas passam mais tempo aqui do que em casa. É preciso que o ambiente seja acolhedor”, diz Horovitz. Fernanda Jaguaribe, 26 anos, da equipe de atendimento, aprova a decoração temática. “É como se eu estivesse em vários lugares ao mesmo tempo. Tenho prazer em trabalhar aqui. Produzo mais, mesmo ficando na empresa 12 horas por dia.”