No cinema, é comum o público se emocionar com histórias como a de Patch Adams, um médico americano que, inconformado com o tratamento distante dispensado aos pacientes nos hospitais, criou um método mais humano e caloroso de lidar com eles. O que ninguém imagina é que no Brasil real existam exemplos de dedicação como o dele. Na UTI do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, a equipe chefiada pelo pediatra Eduardo Troster decidiu arregaçar as mangas para obter ajuda.

Centro de referência em transplantes, o Instituto da Criança atende de graça a mais de 120 mil crianças e adolescentes por ano. Ligado à Faculdade de Medicina da USP, é também um centro de ensino e pesquisa e recebe 40 médicos-residentes anualmente. O dinheiro vindo do governo do Estado de São Paulo é suficiente para mantê-lo funcionando, mas não prevê investimentos em pessoal e modernização. Só a UTI pediátrica consome R$ 4 milhões anuais em 500 internações. É aí que entra o trabalho de Troster, no Instituto desde 1979.

Com um consultório nos Jardins e outro no Hospital Israelita Albert Einstein, ele cansou de ver um abismo entre os recursos disponíveis ali e os destinados aos pacientes do Instituto. Decidiu não esperar mais por recursos, e sim ir buscá-los. Após seis anos requisitando a compra do Prisma, um aparelho de hemofiltração de R$ 45 mil, em maio passado Troster encaminhou um pedido, junto com um detalhado relatório sobre a sua necessidade, à Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC). Conseguiu o aparelho e também a admiração dos banqueiros. Tempos depois, ao saber que um fabricante de equipamentos hospitalares queria testar o uso de seu respirador artificial Newport E 300 em pediatria, ofereceu a UTI do hospital. Em troca, o equipamento de R$ 50 mil ficou na entidade. “Vou às empresas e peço o que preciso mesmo. O máximo que pode ocorrer é ouvir um não”, diz.

Direto, Troster é capaz de convencer até pacientes a fazerem sua
parte. Ao receber um advogado renomado em seu consultório,
contou-lhe o quanto era demorado o processo de compra de equipamentos básicos, como sensores para medir a oxigenação do
sangue dos pacientes. Na mesma hora, o interlocutor assinou um
cheque de R$ 7 mil. “Se as pessoas fazem doações para a preservação das baleias ou para a reciclagem de lixo, por que não concordariam em ajudar a salvar vidas?”, argumenta.

Atualmente, além do aparato tecnológico, Troster e a enfermeira-chefe da UTI pediátrica, Rosemeire Keiko Hangai, buscam doações em dinheiro para investir em cursos de informática, inglês e pós-graduação para enfermeiros e auxiliares de enfermagem. “É que, em UTI, se não houver pessoas capacitadas, não adiantam os melhores aparelhos”, diz Rosemeire. A Gessy-Lever já doa R$ 2 mil por mês. Troster sonha não
só em modernizar e estender os benefícios a toda a equipe, mas também em proporcionar às crianças a possibilidade de serem atendidas em casa. “Se um paciente fica na UTI durante um ano, deixamos de atender
outros 50”, explica. O desafio, agora, é fazer a campanha chegar
aos ouvidos de mais pessoas.

Para doar, envie um e-mail para rosemeirekh@icr.hcnet.usp.br