19/06/2002 - 10:00
Não tem nada pior do que vestir a roupa errada, na hora errada, no lugar errado. Mas o equívoco pode ser pior se acontecer em ambiente de trabalho. Dois especialistas em moda, Heloisa Marra e Julio Rego, acabam de lançar o livro Estilo no trabalho (Senac, 184 págs., R$ 45), que pretende ajudar aqueles que gostam de se vestir bem, mas muitas vezes se sentem inseguros em relação a seus colegas. Julio é produtor de moda masculina do Jornalismo da Rede Globo e assina também o figurino do programa de Jô Soares. Heloisa é redatora do caderno Ela, do jornal O Globo. Ambos têm a mesma opinião sobre roupas e atitudes: são símbolos de comunicação e, muitas vezes, uma questão de estratégia. E oferecem um livro didático sem ser chato. Ao mesmo tempo que falam de moda, dissecam mudanças comportamentais.
Por exemplo: hoje é comum em quase todo o mundo ocidental empresas que estimulam o clima de informalidade, especialmente na sexta-feira. Mas o que é ser casual? “Mais camisa social e calça cáqui do que terno e gravata”, resumem. Além de dicas básicas para trabalhar em escritórios – como evitar profusão de piercings, tatuagens visíveis, alça de sutiã aparecendo, decotes exagerados, moletons e até andar sempre na última moda –, o livro fala de algumas profissões que pedem um modo de vestir diferenciado, como a de advogados, médicos, arquitetos, analistas financeiros.
A medicina é uma profissão que mudou o conceito nos últimos anos. O médico perdeu muito de seu status de “ser superior” e virou simples trabalhador. Hoje, não é raro encontrá-los em indumentárias coloridas. A cirurgiã plástica Vera Cardim, 49 anos, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, adota o uso do jaleco sobre roupas sóbrias. “Nada de saias curtas, blusas decotadas ou de alcinha. Estou sempre com uma malha ou uma blusa de cores neutras. Sem jóias ou brincos muito chamativos. Isso sai do foco profissional”, explica Vera. Na avaliação de Heloisa e Julio, ela está no grupo antenado nos pré-requisitos fundamentais da profissão.
Identificados como pessoas despojadas e de bom gosto, arquitetos e decoradores costumam andar com roupas descontraídas. O carioca Chicô Gouveia, 49 anos, circula com equilíbrio entre sua clientela vip e os prestadores de serviços, como pintores, marceneiros, pedreiros. “Nem esquento com o que vão achar do que visto. Não sou escravo de roupa”, diz ele. Seu guarda-roupa é repleto de calças jeans e cáqui, camisas de todas as cores e sapatos mocassim. Julio e Heloisa catalogam Chicô sem dificuldade: “O arquiteto é um observador da natureza, um boêmio diurno.” Ou seja, pode fazer o que quiser. Exceto, segundo eles, se fantasiar de arquiteto, com macacão, colete e lapiseiras (leia quadro). Ou seja, a única coisa abominada neste livro é ser fashion victim (vítima da moda).