30/06/2004 - 10:00
O francês Jacques-Henri Lartigue
(1894-1986) é o grande destaque da megamostra Foto arte 2004, que acontece em Brasília até o início de agosto, reunindo trabalhos de 198 artistas, distribuídos por 50 locais de exibição. Pintor, decorador, designer de moda, escritor e, principalmente, fotógrafo, Lartigue foi um artista multimídia muito antes de o termo se popularizar. Disparou seus primeiros cliques quando tinha apenas cinco anos, usando uma câmera do pai. Mestre das lentes, sempre foi meticuloso na composição de seus retratos. Também registrou momentos fugazes, seja em cenas como a da foto Tempestade em Nice, seja nos instantâneos que tirou de amigos como o artista plástico Pablo Picasso, o poeta, dramaturgo e escritor Jean Cocteau, o cineasta François Truffaut ou o ator Dirk Bogarde. Sua paixão pelo cinema ultrapassou a amizade com diretores. Muitas vezes fotografou os bastidores das filmagens, construindo um acervo de raridades testemunhadas pelos olhos de um profissional nada comum.
A exposição de Brasília, montada na galeria do Conjunto Cultural da Caixa, é a maior do artista já realizada na América do Sul. Reúne cerca de 200 trabalhos, entre retratos e auto-retratos, produzidos no período de 1899 a 1983, incluindo fotos de família e instantâneos de anônimos, todos selecionados pela Fundação Lartigue e divididos nos segmentos Moi et les autres e Photopoche.
Outras atrações da Foto arte 2004 são os trabalhos experimentais de Alex Flemming, brasileiro radicado há dez anos em Berlim; as fotos de Rodolpho Lindemann, considerado um dos maiores profissionais da câmera do século XIX; as exposições do internacional Sebastião Salgado (que será aberta em julho, no Palácio do Planalto), de Walter Carvalho, dos russos Andrey Cheznin e Alexey Titarenko, e os curiosos nus femininos do esloveno Evgen Bavcar, que, além de fotógrafo, é doutor em estética pela Sorbonne, filósofo e cineasta. Em relação a Bavcar, sua obra não chama a atenção só pela qualidade. Cego desde os 12 anos, ele contraria todas as regras da profissão ao atracar-se apenas à sensibilidade para registrar trabalhos inconfundíveis. Também integra os spots Anderson Schneider, que mostra o resultado dramático de sua viagem ao Iraque em janeiro e fevereiro deste ano.
Entre os fotógrafos radicados em Brasília e selecionados pela direção da mostra, um dos destaques é Leopoldo Silva, repórter fotográfico da sucursal brasiliense de ISTOÉ. Convidado pela primeira vez para participar da megaexposição, Silva exibe o fruto de dois anos de pesquisa com os remanescentes de quilombos no interior de Goiás. São fotos nas quais situações do cotidiano se transformam em cenas cheias de particularidades, como o olhar determinado e matreiro da garotinha que fita a câmera com a experiência de uma modelo acostumada aos holofotes.