30/06/2004 - 10:00
Imagine uma final de Copa do Mundo. Estádio lotado, torcida nervosa. Antes de o jogo começar, um dos times faz uma exigência: que a bola que traz debaixo do braço seja a usada na partida. A situação, impensável nos dias de hoje, aconteceu em 1930 na final da primeira Copa, disputada entre Uruguai e Argentina. Para que nenhum dos times se sentisse prejudicado, os organizadores optaram por usar a bola argentina no primeiro tempo e a uruguaia no segundo. A desconfiança era justificável. Não existiam padrões de peso, tamanho ou qualidade. Sete décadas e muita tecnologia depois, a medalha de ouro no futebol da Olimpíada de Atenas será disputada com uma das melhores bolas já desenvolvidas até hoje, a Adidas Pelias. A carcaça é laminada por uma técnica inovadora e costurada à máquina. Os gomos são colados por meio de uma ligação térmica que proporciona um aumento da capacidade de resposta, da sensibilidade no contato com a bola e uma trajetória mais firme.
A empresa alemã é a fornecedora oficial de bolas em Copas do Mundo e jogos olímpicos desde 1970, quando lançou o modelo Telstar durante a Copa do México. Foi a primeira vez que se viu gomos em formato de pentágonos e hexágonos, que até então costumavam ser retangulares, em forma de banana e até inexistentes. “Comecei a jogar com bola de meia. Roubava a meia de náilon da minha mãe e tudo servia como recheio”, lembra Mário Jorge Lobo Zagallo, coordenador técnico da Seleção Brasileira. “Pintávamos de branco para poder enxergá-la à noite e a bola ficava ainda mais pesada”, conta. Hoje os fabricantes estão empenhados em torná-las cada vez mais leves, com peso inferior a 450 gramas. “São feitas para jogadores de linha”, resume Jorge Luiz Andrade, craque do Flamengo na década de 1970. “Por serem leves, ganham muito efeito no ar, o que é traidor para os goleiros”, afirma. Que o diga o goleiro do São Paulo, Rogério Ceni. Acostumado também a bater faltas, Ceni afirma que as bolas beneficiam quem chuta, mas nunca quem defende. “O material sintético de que são feitas impede a aderência à luva do goleiro”, reclama.
Preocupada em atender a demandas como essa, a Fifa criou um comitê para o desenvolvimento de bolas formado pelos sete maiores fabricantes do mundo, entre os quais a paulistana Penalty, a única empresa brasileira no grupo. A marca investe em precisão. Utiliza réplicas das máquinas de testes usadas pela Fifa e seu último modelo para campo, a Penalty Precision, foi submetido ao túnel de vento da Embraer, usado para aferir a aerodinâmica de aviões. Mas a verdadeira prova dos nove acontece em campo. O craque do Real Madrid, Roberto Carlos, cujos chutes ultrapassam 120 km/h, considera a Adidas Etrusco, bola totalmente à prova d’água, uma das melhores que usou. A inglesa Umbro, patrocinadora da Seleção Brasileira entre 1958 e 1994, está entre as mais requisitadas pelos europeus. É usada pela seleção inglesa, irlandesa e por times como Chelsea e Lyon. Já na opinião de Zagallo, as bolas da Nike são as preferidas dos jogadores da Seleção Brasileira. Pudera. Apesar de estar no mercado de bolas apenas desde 1998, a empresa fornece as redondas para os treinos da CBF, Copa Libertadores e Copa América. Seu último modelo é a Total 90 Aerow, em referência aos 90 minutos de uma partida.
Apesar das preferências pessoais, na hora de escalar a bola que entrará em campo valem os interesses comerciais. “O que manda são os contratos”, revela Zagallo. “Os atletas treinam com a marca que os patrocina e jogam com a marca oficial de cada campeonato. Há bolas de que eles gostam e outras às quais têm de se acostumar. A variação chega a atrapalhar o desempenho”, conta. Para Roberto Carlos, no entanto, a troca de bolas não é problema. Questionado sobre o que é preciso para que uma bola seja boa, o atacante respondeu no ângulo. “Basta que esteja cheia.”