Nos anos 1900, a França entra no esplendor da belle époque. Paris desperta para a vida mundana, os cafés e cabarés vivem lotados e as artes substituem o pesado barroco pela leveza da art déco. O mineiro Santos Dumont (1873-1932) passa horas a fio investindo num aparelho mais leve que o ar. Precisava cronometrar seus experimentos e pede ao amigo Louis Cartier para criar um relógio que pudesse usar no pulso. O comum na época era o de bolso. Cartier lançou, então, em 1904, o relógio Santos em homenagem ao amigo, considerado o primeiro relógio de pulso de uso civil. Tudo o que Santos Dumont fazia virava moda na Cidade Luz e a mania ganhou o mundo. Passados 100 anos, a Cartier comemora a invenção com três novos modelos da linha Santos, dois masculinos e um feminino. Os homens podem optar entre o estilo esportivo e o clássico. As mulheres foram brindadas com um similar cravejado de brilhantes, batizado Santos Demoiselle. Os lançamentos foram marcados por quatro festas de arromba. A última delas na quinta-feira 24 num hangar de cinco mil metros quadrados do Aeroporto Santos Dumont.

Assim como o original, que saiu de Genebra para as mãos da família do aviador e acabou se perdendo, o Santos 100 também exibe os parafusos. Uma ousadia proposital. É uma máquina pesada, esportiva, em diversas versões. Os mostradores podem ser em ouro, aço ou com os dois metais combinados e as pulseiras, em couro de jacaré e metal. Já o Santos Dumont é sofisticado e leve, e aparece nas mesmas versões. Todos têm uma safira na corda e mantêm as características de máquina quadrada de ângulos arredondados, com algarismos romanos sobre fundo branco, esbanjando charme e elegância. Os preços condizem com a sofisticação: variam de R$ 15 mil a R$ 52 mil. O de brilhantes feminino tem preço estimado em R$ 150 mil, mas ainda não está à venda no Brasil. Os outros podem ser encontrados nas duas lojas da marca, no Rio e em São Paulo, e em joalherias concessionárias.

A festa de lançamento seguiu o padrão de requinte. Os mil convidados, entre ministros e artistas da Globo, chegaram por um túnel de vidro de 17 metros, apreciaram imagens do aviador e relógios antigos do acervo Cartier e degustaram um cardápio literalmente valioso. A chef Samantha Aquim, formada em Paris pelo famoso patissier Lenôtre, criou doces com pó de ouro e uma pirâmide transparente de baunilha, com uma folha de ouro comestível em seu interior. O quilo da baunilha custou R$ 2,9 mil e a folha de ouro, R$ 200, ambas importadas. O presidente da Cartier, o francês Bernard Fornas, 57 anos, recebeu os convidados nas quatro festas. A primeira foi no Aeroporto de Bourget, em Paris, a segunda no State Armory, em Nova York, e a terceira na torre Ropongi Hills, em Tóquio. Fornas reafirmou sua admiração pelo brasileiro que inspira a coleção. “Se os americanos ainda insistem em atribuir aos irmãos Wrigth a invenção do avião, para a Cartier essa proeza se deve a Santos Dumont, que voou com o 14 Bis em 1906.”