30/06/2004 - 10:00
Em campanha pela sucessão de Marta Suplicy (PT),
Paulo Maluf está usando o mote “o bom prefeito”. Pelas informações que vêm chegando aos eleitores nas últimas semanas, Maluf está mais para “o bom engenheiro”. A especialização seria, no entanto, diferente da obtida em 1954, quando ele se formou pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Em vez de engenheiro civil, Maluf está se revelando um aplicado engenheiro de finanças. Desde 1984 ele aparece como beneficiário de polpudas contas no Exterior. Em alguns períodos, a movimentação bancária foi tão intensa que levantou suspeitas. Afinal, dinheiro lícito não fica circulando
o tempo todo em nome de off-shores, como são conhecidas as empresas
abertas em paraísos fiscais. O mais recente reflexo da engenharia financeira atribuída ao ex-prefeito de São Paulo (1993-1996) veio à tona na semana passada por causa da White Gold Foundation, uma das off-shores de Maluf (leia fac-símile). A empresa, que recebeu um total de US$ 200 milhões em depósitos apenas em dezembro de 1995, foi aberta cinco anos antes, em Valduz, capital do principado de Liechtenstein, na Europa.
Pelo estatuto da White Gold, em caso de morte de Maluf, 50% dos bens seriam destinados à sua mulher, Sylvia. A outra metade seria dividida entre os quatro filhos do casal – Lígia, Otávio, Flávio e Lina. Ao saber que a documentação viera a público, Maluf afirmou, como de costume, que não tem nenhuma conta no Exterior. “Isso é outra farsa com objetivo eleitoral”, garantiu. Na semana anterior, ele havia classificado como falsa uma carta, de dezembro de 1996, transferindo todos os recursos da mesma White Gold para a off-shore Durant International. Os promotores Sílvio Marques e Sérgio Sobrane, que investigam Maluf por improbidade administrativa, atestam a autenticidade da documentação, embora ressaltem que não divulgaram o material, legalmente protegido por sigilo bancário.
Na prática, existem várias cópias da documentação bancária de Maluf na Suíça, pois o ex-prefeito está sendo investigado em frentes distintas. Quem não obteve nenhum documento ainda foi a CPI do Banestado, que investiga evasão de divisas. Na quinta-feira 24, o senador Antero Paes de Barros (PSDB/MT), presidente da CPI, peregrinou por São Paulo tentando agilizar o acesso à papelada. Pelas investigações, boa parte das verbas desviadas durante a construção da avenida Águas Espraiadas saiu do Brasil através do Banestado. Como se não bastasse, há depósitos de empreiteiras contratadas por empresas vencedoras da concorrência, feitos diretamente numa agência paraguaia do BDP, como o Banestado é conhecido naquele país. Do cone sul, o dinheiro seguia para os Estados Unidos e, de lá, para a Europa. Um dos responsáveis pela recuperação dos recursos desviados, Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira, secretário dos Assuntos Jurídicos da Prefeitura de São Paulo, prepara-se para viajar à Suíça e à Inglaterra, para contatar escritórios locais de advocacia. “É um processo complicado”, lembra o secretário. “O caminho do dinheiro, com a ligação entre uma ponta e outra, precisa estar bem claro.” Pelo volume da documentação, não será moleza. Só na ponta brasileira, são 230 mil documentos bancários. E, entre o Brasil e a Suíça, tem muito mais do que um oceano.