18/09/2002 - 10:00
A menos de um mês do primeiro turno da eleição, os candidatos ao governo de São Paulo José Genoíno (PT), Paulo Maluf (PPB) e Antônio Cabrera (PTB) – principais adversários do governador tucano, Geraldo Alckmin (PSDB) – não escondem de ninguém que a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, no Estado mais importante da Federação, não tem ocorrido em igualdade de condições. Os três batem duro e, cada um a seu modo, atacam o sucessor do falecido Mário Covas pelo uso da máquina administrativa em sua campanha à reeleição. Essa foi a reação de Genoíno, Maluf e Cabrera depois de lerem o “Direito de resposta de Alckmin”, publicado na revista ISTOÉ Dinheiro da semana passada.
Inconformado com a reportagem “A máquina singular de Alckmin”, publicada na edição 261, de 28 de agosto, o governador entrou na Justiça Eleitoral e ganhou três páginas para exercer seu direito de resposta. Em vez de contestar as informações da matéria sobre o uso da estrutura administrativa do Estado em prol de sua candidatura, o governador abocanhou, sem o menor constrangimento, o espaço para promover sua campanha, afirmam seus adversários.
Quero me solidarizar com ISTOÉ Dinheiro porque ela foi a única que teve coragem de mostrar o uso abusivo da máquina pública por Alckmin. Ele não usou o espaço dado pela Justiça para responder. Não deu resposta, mas, sim, fez campanha sobre si próprio”, reclamou Maluf. “As denúncias feitas pela revista precisam ser apuradas e investigadas, pois a reeleição produz uma disputa diferenciada com os demais adversários e concorrentes. Ninguém sabe qual é a hora em que ele (Geraldo Alckmin) é candidato nem a hora em que ele é governador”, afirma Genoíno, que é contra a reeleição no País. “Essa faixa cinzenta é fruto da reeleição, que é um instituto equivocado. Cada vez mais me convenço de que a reeleição é ruim”, acrescenta o petista.
A postura de Alckmin também deixou Cabrera indignado. “Fico triste porque participei do governo Covas e vejo o quanto ele é diferente. O Alckmin está obrigando os funcionários da Secretaria da Educação a segurar bandeiras e distribuir panfletos. Isso é um desrespeito ao eleitor de São Paulo.” Maluf cita outros exemplos. Acusa o tucano de estar viajando para o interior do Estado com o pretexto de entregar carros de polícia aos prefeitos em troca de votos. “Cada viagem que ele faz sai mais caro para os cofres públicos do que o valor do carro. Do avião que ele anda ao querosene, tudo é pago com dinheiro público”, contabiliza o ex-governador. “Eu esperava que ele tivesse feito o que Mário Covas fez em 1998, quando se licenciou para disputar a reeleição. Essa confusão entre o cargo de governador e a condição de candidato não é boa para a democracia”, ressalta Genoíno. Para Cabrera, o fato de Alckmin não ter pedido licença do cargo para fazer a campanha fere a memória de Covas. “O Mário sempre repudiou o uso da máquina pública”, reforça o candidato da Frente Trabalhista. Maluf assina em baixo. “A diferença entre o atual governador e o Covas é que Alckmin é dissimulado. O Covas batia de frente, como homem. O Alckmin é aquele que bate a carteira e sai correndo pela rua XV de Novembro gritando: pega ladrão!”, completa o pepebista.
Genoíno afirma que esse não é o único problema da atual administração. “Esse governo é fraco e ao longo de oito anos comprometeu o crescimento de São Paulo. O resultado de tudo isso é que temos hoje 3,7 milhões de desempregados, os piores índices de violência e uma política de abandono do setor produtivo e das regiões econômicas.” O petista abordou ainda a questão das privatizações. “O governo que está aí fez tudo pelas concessionárias de estradas, as concessionárias de distribuição de energia e negociou mal a dívida de São Paulo”, avaliou Genoíno. “Mas a população está vendo tudo. É por isso que ele está patinando nas pesquisas, não sobe. Todas as secretarias estão fazendo campanha para ele”, acusa Maluf, que ao encontrá-lo frente a frente promete chamar o governador de “mentiroso” e dizer que “o nariz dele está crescendo”.
Votos – Para Maluf, o governador não é confiável. “Alckmin é desonesto. Ele usa o telefone público para ligar para os prefeitos e pedir votos. O Palácio dos Bandeirantes virou o comitê eleitoral dele”, ataca o candidato do PPB. E acrescenta: “Ele está levando os prefeitos ao Palácio e eles têm assinado convênios em troca de apoio e votos. Os próprios prefeitos me contaram. Já visitei mais de 500 cidades e sei o que estou dizendo. Eu digo para os prefeitos: ‘Finjam que vão apoiá-lo, mas, na hora de votar, votem no Maluf.’” Os argumentos de Genoíno para atrair votos são outros. E avisa: “Tanto Geraldo como Maluf são duas alternativas erradas para São Paulo. Eles já governaram e nada fizeram pelo Estado.”
De acordo com a última pesquisa do Datafolha, realizada na segunda-feira 9, com 1.196 eleitores em 67 cidades, Maluf perdeu 5 pontos. Caiu de 40% para 35%, mas continua liderando a preferência do eleitorado. Alckmin passou de 24% para 25% e o petista, por sua vez, é o único que tem o que comemorar. Genoíno subiu 7 pontos, pulou de 10% para 17%.