chamada.jpg
DOIS LADOS
Na outra página, palestinos observam os destroços de uma
casa bombardeada; abaixo, arrastam o corpo de um suspeito traidor

01.jpg

Os tiros ouvidos nas ruas de Gaza na noite da quarta-feira 21 destoavam do barulho das explosões que ecoavam havia oito dias na cidade palestina. Desta vez, o clima era de comemoração. Tanto Israel quanto o Hamas, partido islâmico que controla a região, haviam concordado em encerrar as hostilidades mútuas, depois que ao menos 162 palestinos e cinco israelenses foram dados como mortos. O acordo de cessar-fogo, mediado por Estados Unidos e Egito, suspendia, pelo menos temporariamente, as cenas de barbárie que circularam pelo mundo em mais um episódio do sangrento conflito entre israelenses e palestinos. O enfrentamento dos últimos dias é uma repetição do que ocorreu em 2008 e 2009, quando o derramamento de sangue atingiu mais de 1.400 palestinos. De um lado, o Hamas insiste em lançar foguetes e mísseis de curta distância, deixando cidades ao sul de Israel em situações de vulnerabilidade. De outro, a resposta israelense é sempre marcada pela morte de muitos inocentes. Desta vez, uma família perdeu 11 de seus membros, dos quais quatro eram crianças.

02.jpg

A ofensiva recomeçou com o assassinato do chefe militar do Hamas, Ahmed Jabari, na quarta-feira 14. A emboscada que o derrubou foi armada a dois meses das eleições gerais israelenses. O ataque foi interpretado como uma tentativa do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, de consolidar sua base de apoio político, principalmente nas cidades que fazem fronteira com Gaza, ao enfraquecer a infraestrutura do Hamas em mais uma demonstração de seu poder bélico. Os líderes do movimento islâmico disseram, naquele momento, que a ação “abriu as portas do inferno” e novos ataques se seguiram – prontamente respondidos, com violência maior, pelos israelenses. “Em geral, o povo israelense apoia investidas militares contra a Palestina”, afirma Guilherme Casarões, professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco. Segundo o jornal “Jerusalem Post”, esse apoio é compartilhado por 85% da população. “Não por acaso, há uma escalada de tensões em vésperas de eleição”, diz Casarões.

Se os ganhos domésticos da ação militar israelense só serão conhecidos depois das eleições, os analistas concordam que, perante a comunidade internacional, a imagem de Israel se deteriorou. Além da violência sem limites dos ataques a Gaza, o bloqueio econômico imposto pelos israelenses à cidade continua a relegar milhares de palestinos à condição de miséria. O acordo firmado na semana passada prevê a flexibilização do bloqueio para facilitar o transporte de bens e pessoas. O Hamas, em contrapartida, emerge como um ator político legítimo, em detrimento da pacífica Autoridade Palestina, apoiado por países como Egito, Turquia e Qatar. Liderado pela Irmandade Muçulmana, fundadora do Hamas, o Egito foi fundamental para a paz. “O Egito pós-Primavera Árabe é um apoiador teórico do Hamas, mas incapaz de sustentá-lo materialmente, porque sofre com a sua economia”, disse à ISTOÉ o especialista em Egito do Washington Institute, Eric Trager. “Ao mesmo tempo, é improvável que ele abra mão de uma relação diplomática com Israel.”

03.jpg

Foto: Ibraheem Abu Mustafa e Suhaib Salem/REUTERS