29/06/2002 - 10:00
São Paulo, segunda-feira 3 de junho, oito da manhã. A Companhia de Engenharia de Tráfico (CET) registra zero quilômetro de congestionamento em toda a cidade, fato inédito para o dia da semana. Não é feriado, mas certamente trata-se de uma data especial: é o dia da estréia da Seleção Brasileira na Copa 2002. O time de Felipão parou o País e fez milhões de pessoas acordarem mais cedo para acompanhar a vitória, de virada, de 2 a 1 contra a Turquia.
Até poucas semanas atrás, entretanto, a expectativa em relação ao Mundial não era das maiores. O estudante paulistano Fernando Rucco, 19 anos, explicou que ele e seus amigos não estavam ansiosos para assistir aos jogos do Brasil devido ao mau desempenho da Seleção nas Eliminatórias. “Desde a Copa de 1990 nós temos o costume de decorar a rua com bandeiras. Este ano só decidimos colocar os enfeites depois da derrota da França para o Senegal”, explicou Fernando. “Viramos a noite para pintar todas as bandeiras. Na madrugada da partida do Brasil, um dos garotos da turma passou de casa em casa para acordar o pessoal”, contou o estudante.
Um dos maiores problemas da Copa deste ano era justamente o horário dos jogos, a maioria durante a madrugada. Mas o que poderia ser desfavorável acabou tornando-se uma vantagem. Às seis da manhã, quando começou o jogo da Seleção (no horário de Brasília), quase todos os brasileiros estavam em casa. O resultado? A Rede Globo, que detém os direitos de transmissão dos jogos, registrou impressionantes 62 pontos de Ibope com picos de 73. Nem a final da Copa de 94, quando o Brasil
foi campeão, obteve números tão expressivos.
Mas isso não significa necessariamente que o número de pessoas que assistiu ao jogo de estréia deste ano foi maior do que a final de oito anos atrás. “Nesta Copa ficou mais difícil reunir os amigos”, explica o empresário paulista Djalma Pessôa. Ele assiste às partidas com a mulher, Maria Luíza, e os dois filhos, Renata e Ricardo, na própria casa, durante o café da manhã. Como a maioria dos brasileiros irá assistir aos jogos nas mesmas condições, sem reuniões na casa de amigos, um número
muito maior de televisores estará ligado e, por isso, a audiência
deverá aumentar.
Energéticos – E o que o torcedor brasileiro anda fazendo para aguentar o sono durante o dia? Pessôa e sua família, por exemplo, optaram por dormir mais cedo. “Gosto de assistir aos jogos de todos os países, não só os do Brasil. Por isso, o jeito é ir para a cama antes e recuperar as horas perdidas nos finais de semana”, explica o empresário. Alguns preferem virar a noite. É o caso da apresentadora de televisão Dora Vergueiro. “Quando os jogos forem de madrugada, vou reunir os amigos. Assim fico acordada direto e tenho um fim de noite com um grande evento”, afirma Dora. Paulista radicada no Rio de Janeiro, ela também pretende emendar após as partidas e tomar o café da manhã na padaria
próxima a sua casa.
Quem não aguenta a balada, apela para o despertador. Prova disso é o serviço-despertador da Telefônica paulista. No domingo que antecedeu a estréia brasileira no Mundial, o serviço recebeu 18 vezes mais chamadas do que atende normalmente. Devido à enorme demanda, a tarifa do serviço foi diminuída. De R$ 0,42 passou para R$ 0,39.
Mas, para ficar acordado durante o dia, muita gente vai apelar para o velho e bom cafezinho. Ou, então, abusar de latinhas de energéticos ou mesmo de guaraná em pó. Para essas pessoas, a nutricionista Márcia Daskal dá um aviso: “Tanto essas bebidas como os refrigerantes – muito utilizados para não sentir sono – possuem cafeína, um estimulante do sistema nervoso que dá sensação de energia e estado de alerta”, explica ela. Mas, se forem ingeridos em excesso, podem causar taquicardia e desidratação, já que a cafeína provoca diurese. “O melhor nesses casos é alimentar-se bem, não ficar mais de três horas sem comer e beber muita água”, completa. Dessa forma, o corpo terá energia para manter-se bem o resto do dia. E torcer, torcer, torcer…