13/06/2002 - 10:00
Gisele Bündchen já havia marcado sua festa de aniversário no Brasil para 7 de julho, véspera da abertura do São Paulo Fashion Week. O estilista Carlos Miele, da M.Officer, tinha avisado que não participaria do evento, o mais importante da moda do País, porque o período entre 8 e 13 de julho coincidiria com os desfiles de Paris. Diante disso, a Prefeitura do Rio e os organizadores da semana de moda carioca, batizada de FashionRIO, marcaram seu evento para a semana subsequente, de 15 a 20 de julho. Só que, faltando apenas um mês, o que era para ser uma celebração dos melhores estilistas brasileiros virou briga. Paulo Borges, organizador da SPFW, anunciou que a sua semana seria realizada na mesma data
da do Rio de Janeiro.
Foi um deus-nos-acuda. Eram o centro financeiro e o principal cartão-postal do Brasil disputando qual a melhor data para atrair a atenção para suas criações. Num efeito cascata, as principais marcas cariocas – Blue Man, Lenny e Rygy – decidiram que não iriam mais fazer a ponte aérea. Paulo Skaff, presidente da Associação Brasileira de Indústrias Têxteis (ABIT), previu o caos. “Para o público e os formadores de opinião assistirem aos desfiles em duas cidades diferentes no mesmo dia e na mesma hora, só fazendo clonagem”, disse. “Quem perde é o Brasil. Não dá para mudar as regras do jogo a um mês da estréia”, afirmou Eloysa Simão, organizadora da FashionRIO. Borges, da SPFW, retrucou: “Nunca anunciamos data oficial, e sim trabalhamos com algumas variáveis… O combinado era que o Rio aguardaria a oficialização da nossa para
marcar a deles.”
Não se tratava de simplesmente definir o dia de um desfile. A realização da SPFW orienta toda a organização do mercado de moda no Brasil. São 30 mil empresas do ramo têxtil e de confecção, que empregam 1,4 milhão de pessoas. Representam um mercado que movimenta US$ 22 bilhões por ano no País e faturou em 2001 cerca de US$ 1,3 bilhão em exportações. Realizado desde 1996, o evento paulistano sempre congregou a nata dos criadores e as mais poderosas confecções do País. Já o Rio é mestre em moda de praia. Seria o primeiro ano em que os eventos das duas cidades estariam alinhados. “Os estilistas do Rio criaram sua própria semana porque não se sentiam representados”, aponta Carlos Miele, da M.Officer. David Azulay, da fábrica de biquínis Blue Man, compara: “O calendário de São Paulo está inchado e o do Rio, seco. Se os dois se unissem, teríamos mais visibilidade para o mundo.” O mineiro Ronaldo Fraga, que abrirá os desfiles na capital paulista, dia 15, lamenta. “Um evento não ameaça o outro em nada. O atraso pode retardar o lançamento das coleções e comprometer as vendas”, afirma. Na quarta-feira 5, a FashionRIO jogou a toalha e decidiu, então, adiar seu início para 22 de julho, uma semana depois do SPFW. O organizador Borges resume assim a história: “Com certeza, tudo não passou de uma enorme falta de comunicação,
o que é uma pena.”