Ficar aflito porque o filho se recusa a tomar remédio é um fato corriqueiro na vida dos pais. Uma queixa comum da criança é o sabor do medicamento, raras vezes agradável para o exigente paladar infantil. Outras vezes é o formato que atrapalha. Comprimidos nem sempre são facilmente engolidos pelo pequeno enfermo. A boa notícia é que esses problemas podem ser contornados. Farmácias de manipulação de São Paulo estão começando a preparar drogas com formas e sabores mais atraentes para a garotada, como pirulitos com gosto de morango.

Nos Estados Unidos, a estratégia é conhecida. Além dos pirulitos, as crianças consomem medicamentos que se parecem com balas, sorvetes e até chocolate. Mas só se pode recorrer aos formatos diferenciados nos casos em que a dosagem exata do princípio ativo não é condição fundamental para garantir a eficácia e a segurança da terapia (caso dos antitérmicos). Isso porque não é possível assegurar que o pequeno consumirá o remédio até o fim. Ou seja, dar cor, forma e sabor aos medicamentos não vale para todo tipo enfermidade.

Entre os remédios que podem vir em embalagem apropriada às crianças estão os antifúngicos. Um dos exemplos é o pirulito contra a candidíase bucal, o popular sapinho. “O medicamento fica o tempo todo em contato com a mucosa. O tratamento tem efeito potencializado”, explica Marco Antônio Perino, vice-presidente da Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), entidade que reúne as farmácias de manipulação. De acordo com Perino, a grande vantagem da linha pediátrica com formatos diferenciados é a adesão. “A criança não recusa o remédio”, afirma. De fato, os pirulitos foram um alívio para a empresária Telma Giassetti, mãe de Armando, dez anos. O menino já tinha sofrido duas vezes para se livrar de aftas com o uso de produtos convencionais. Na terceira crise, o pediatra receitou um pirulito com medicamentos. Teve sucesso. “Foi muito mais tranquilo para ele”, conta.

Esses produtos são bons também como veículos de substâncias para melhorar dores, como a de garganta. “A liberação do princípio ativo é lenta e sua absorção é sublingual”, diz Perino. A droga entra na corrente sanguínea direto pela boca, sem agredir o estômago, como outros remédios. Nesse caso podem ser usados pirulitos, pastilhas e mesmo as barras de chocolate (disponíveis em breve no País). Se for recomendado o consumo de gelados após uma intervenção odontológica, é possível encomendar um picolé com anestésico. “Essa alternativa diminui o stress no tratamento porque a criança toma o remédio com menos resistência”, afirma o pediatra
Aderbal Tadeu Mariotti.

Há três semanas, a Anfarmag ofereceu um curso aos farmacêuticos interessados em dominar a técnica de fabricação dessas opções de medicamentos, feitos com adoçantes que não provocam cáries. “No Brasil, a oferta desses produtos ainda é incipiente, mas existe um grande potencial para os formatos diferenciados”, aposta Perino. Os especialistas lembram que é fundamental que o remédio seja mantido longe do alcance dos filhos. A recomendação vale para qualquer medicamento, mas não se pode negar que nesse caso, com atrativos tão especiais, a atenção
deve ser redobrada.