13/06/2002 - 10:00
Duas décadas e meia antes de a monarquia absolutista e a aristocracia serem derrubadas do poder e o alto clero perder seus privilégios com a Revolução Francesa, a região rural de Gévaudan, no Centro-Sul da França, viveu um pesadelo quase sobrenatural que entrou para a história local. Entre 1764 e 1767, a população mergulhou no total pavor, acuada por um monstro de mandíbulas gigantes, proporções iguais às de uma vaca e aparência alienígena, que estraçalhou perto de 100 pessoas, deixando rastros de sangue e terror entre os poucos habitantes da localidade. A criatura ficou conhecida como “A besta de Gévaudan”. Assim ela também é chamada no filme do francês Christopher Gans, O pacto dos lobos ( Le pacte des loups, França, 2001), aventura com altas doses de mistério e terror, baseada nos fatos reais, que chega às telas nacionais na sexta-feira 14.
Para tentar resolver a situação, o naturalista e jardineiro real Gregoire de Fronsac (Samuel Le Bihan) é enviado pela corte de Luís XVI junto com o estranho Mani (Mark Dacascos), um índio que conversa com lobos e árvores e não vive no mesmo plano sensorial dos comuns, como define o ator Dacascos, que na televisão encarnou Eric Draven, protagonista do seriado baseado no filme O corvo. O naturalista e seu companheiro, donos de habilidades únicas para derrubar vários homens de uma só vez, por meses convivem com as mortes contínuas, sem encontrar solução. Entre uma análise e outra de corpos dilacerados, Fronsac se divide entre o amor casto com Marianne (Émilie Dequenne) e a lascívia com a misteriosa prostituta Sylvia (Monica Bellucci), que terá papel importante na trama de sucesso na França, onde foi vista por mais de cinco
milhões de espectadores.
Grande parte do interesse popular vem do impacto visual provocado pelo filme. Com muitas tomadas em câmera lenta que não banalizam as cenas, ao contrário, dão a elas o choque da estética da violência, como tão bem fazia o americano Sam Peckinpah, O pacto dos lobos segura a atenção num ritmo crescente, apoiado em paisagens que percorrem várias estações do ano.
É claro que, por trás do suspense de terror, há toques sobre a chegada de uma nova ordem social e sobre a tentativa calorosa da Igreja em fazer uma associação apocalíptica com a besta para continuar mantendo seus abusos. Mas esta é apenas uma outra leitura. Mesmo porque a principal intenção do diretor Gans foi instigar o medo, como naqueles terríveis pesadelos recorrentes.