Que o inglês Ian McEwan, 54 anos, é um dos mais importantes autores contemporâneos, não se discute. Mas seu mais recente livro, Reparação (Companhia das Letras, 444 págs., R$ 36), não é o mais arrebatador de seus trabalhos, embora a crítica o tenha considerado, de modo geral, uma obra-prima. McEwan, um mestre na arte de causar tensão para depois expiar culpas, desta vez faz uma exegese filosófica mais longa, com espaço para respiração, pressentimentos e até libertação. De jeito nenhum é prejuízo ao seu inegável talento de contador de história. Apenas não é sua melhor forma de investigação. Reparação propõe várias possibilidades de aprofundamento nos mistérios humanos e de elasticidade na compreensão do que seja culpa, perdão, remorso, verdade, amor. No entanto, o objeto da tensão, o abuso sexual, acaba imprensado entre um início excessivamente detalhista e um forte pano de fundo.

A história fala de Briony, uma pré-adolescente que desgraçadamente ganha da vida oportunidade para exercitar sua crueldade. E Briony não decepciona. É a única pessoa que viu a sombra do estuprador de sua prima de 15 anos e decide acusar um inocente pelo crime. Abruptamente introduzida “na arena adulta de emoções e dissimulações”, Briony não sabe medir as consequências de seu ato. Mas terá o resto da vida para se dar conta do que fez. Atos inconcebíveis e perdão são temas já esmiuçados em outros livros de Ian McEwan. Sua vantagem é deixar o leitor completamente indefeso diante de suas complexas e ambiciosas tramas. Artifício que o faz ser lido e degustado.