O velho mote sexo, drogas e rock’n’roll, que no Ocidente marcou a juventude durante a segunda metade do século XX, sempre foi apontado com desprezo pelas ideologias comunistas, que o consideravam a prova cabal da decadência do mundo capitalista. A escritora chinesa Mian-Mian, nascida em Xangai em 1970, tem se dedicado a colocar o dedo na ferida de seu povo e mostrar que a história não era bem como gostava de alardear o governo de Pequim. Em seu livro mais famoso, Tang, que chega ao Brasil com o nome de Bombons chineses (Geração Editorial, 284 págs., R$ 32), surge uma realidade virulenta, bem diferente do paraíso fundado por Mao Tsé-tung. Um paraíso onde os jovens submergem nas drogas, na depressão e na promiscuidade, ou seja, em tudo que mobiliza seus pares de desilusão do outro lado do planeta.

Não à toa, a obra de Mian-Mian é proibida na China, embora circule livremente na clandestinidade. A proibição nem tem a ver com contestações políticas, que a autora ignora olimpicamente, mas com questões morais. É intolerável ao regime a constatação de que sua juventude possa ser tão alienada quanto qualquer outra, que pode chutar os valores de nobreza e solidariedade e contar a vida vazia com palavras cruas, duras. Ao narrar na primeira pessoa a história de uma jovem atropelada por desamores, drogas, alcoolismo e crimes absurdos, a autora tira do leitor o direito ao escapismo. É mais uma obra forjada como uma longa e sofrida sessão de psicoterapia em grupo, no grupo de junkies solitários de uma China até agora desconhecida.