Ser asiático de pele morena e, principalmente, asiático na Inglaterra nestes dias de ganância petrolífera disfarçada de intenções democráticas não é fácil. Mas os integrantes do grupo londrino Asia Dub Foundation sempre souberam que o caminho político-musical escolhido seria árduo. Há dez anos, eles colocaram suas canções e atitudes a serviço do debate social e contra os preconceitos embutidos no simples fato de uma cultura genética não ser aquela instituída pelo poder judaico-cristão. Em seu quarto álbum de estúdio, que leva o sugestivo nome de Enemy of the enemy (inimigo do inimigo), o ADF amplia a discussão – chega até ao Brasil – e, modernamente, continua tecendo um som antenado com a tecnologia eletrônica mas que ao mesmo tempo encontra raízes nas tradições do punk, do reggae e do pop. Um bom exemplo é Fortress Europe, um impulsivo grito de tensão roqueira-eletrônica de crítica à globalização, em que, através de “uma nova ordem européia, guardas robóticos patrulham a fronteira” e “cães cibernéticos estão cada vez mais perto”.

Adiante, em

1000 mirrors

, o ritmo se atenua na voz de Sinead O’Connor, mas não a virulência da letra abordando os conflitos domésticos, especificamente na comunidade asiática. É dedicada a Zoora Shah, acusada de matar o marido depois de anos de humilhação e surras. Cruzando o Atlântico, o Asia Dub Foundation veio encontrar o rap brasileiro em

19 rebellions

. As narrações noticiosas em português falam do massacre dos 111 presos do Carandiru, em outubro de 1992. Segue uma letra contestatória na voz de Edi Rock, dos Racionais MC’s, enquanto o ADF executa um som que remete a batucadas e berimbaus, numa chacoalhada leitura gringo-eletrônica da música brasileira. E ainda há todas as referências sonoras à Índia ou à música árabe, positiva e hereticamente abertas às interferências de guitarra, baixo e de criativas programações eletrônicas que fazem do Asia Dub Foundation a atual melhor arma de guerra.