O Chicken Ranch é o mais velho estabelecimento comercial americano dedicado à mais antiga profissão do mundo. Este bastião hedonístico, com tradição começada em 1844, agora está à venda. Um negócio do tipo “porteira fechada”, de onde não escapará uma única galinha. São 40 acres (161. 873,6 m²) de terra, ao sul do Estado de Nevada, distante uma hora de Las Vegas. A sede principal é um casarão de 20 suítes, salas de espera e jantar, além de dependências funcionais, tudo com raízes arquitetônicas inspiradas no velho oeste. Além desta estrutura, constam também três bangalôs especiais, um rancho coligado que serve de bar e bilhar, piscina, jardim, quintal e estaciona-
mento para 30 carros. Por US$ 6,95 milhões o comprador levará tudo isso, mais 30 prostitutas-funcionárias, a cafetina-gerente Peggy, o chefe de segurança Earl, dois cozinheiros mexicanos – ilegais, portanto anônimos –, o motorista Jim, junto de uma limousine branca que pega clientes no aeroporto, o barman havaiano Moe e a cadela mascote Heidi, batizada em homenagem à famosa alcoviteira de Hollywood, Heidi Fleiss. Os bordéis são legalizados no Estado, o que garante total legitimidade ao empreendimento. Pelo preço médio do menu oferecido, bastam dez mil serviços para que o novo proprietário empate o investimento.

Do cardápio da casa – arranjado, literalmente, no formato de menu – constam
nada menos do que 28 possibilidades, listadas nas categorias de “aperitivos”, “pratos principais”, “sobremesas”, opções “à la carte” e “especialidades do rancho”. A maioria dos, digamos, “comensais” geralmente escapa dos aperitivos e vai direto ao prato de resistência preferido: o “meio-a-meio”. Peggy, a cafetina, descreve o serviço: “Uma senhorita desempenha sexo oral, trazendo o cavalheiro à ereção, mas sem que se atinja o clímax. Depois, o casal parte para o coito convencional na posição missionária, até o orgasmo.” A conta, neste caso, sai US$ 700, sem a gorjeta. Mas se o freguês for guloso e enveredar pelo aperitivo – algo como, por exemplo, “um banho de espuma a dois” –, passar pelo “meio-a-meio” e chegar à sobremesa – pode ser um “creme de menta”, onde a senhorita enche a boca com licor de menta e aplica sexo oral no gourmet – a dolorosa atingirá US$ 1.300, sem contar a caixinha.

Para os brasileiros, os preços podem parecer salgados, mas é preciso levar
em conta a tradição deste monumento nacional dos Estados Unidos. Foi em homenagem à casa que se escreveram incontáveis livros, o musical da Broadway
A little whorehouse in Texas, seguido do filme com Burt Reynolds e Dolly Parton, baseado na peça, e ainda vários documentários sobre o tema. Mas, a bem da verdade, é preciso anotar que a realidade histórica do Chicken Ranch foi prostituída, por assim dizer. O bordel nasceu em La Grange, um subúrbio de Dallas, no Texas, em 1844. Era uma zona de granjeiros, ao pé da letra. O dinheiro era escasso e os negócios, feitos na base do pagamento em espécie. Por uma galinha, um homem podia, como se diz, afogar o ganso. Foi devido a esse tipo de transação que a
casa de tolerância ganhou o nome de Rancho da Galinha. Estranhamente,
a cafetina fundadora chamava-se “Mrs. Swine” (senhora suíno). Como se vê,
uma história da arca de Noé.

Swine importou três garotas de New Orleans (Louisiana) e montou o estabelecimento que durou 130 anos no local. Durante a Guerra da Secessão
(1861-1865), a cafetina pioneira foi corrida da cidade, acusada de compactuar
com os soldados ianques, da União. Em 1905, o bastão de comando foi empal-mado por Miss Jessie Willians (nascida Faye Stewart), que atendia com suas meninas desde o xerife, passando por políticos, até caubóis. Só barrava a entrada
de bêbados e de quem não era branco. Jessie atravessou períodos importantes como a Grande Depressão, Primeira e Segunda Guerras, controlando os negócios com mão de ferro, apesar da artrite que a confinou numa cadeira de rodas. Morreu disso, em 1961, deixando como herança o trono de rainha do meretrício à sua protegida Edna Milton. Durante os anos 60, o Chicken Ranch – com um fatura-
mento anual de US$ 500 mil – contava com 16 prostitutas que ganhavam em
média US$ 300 por semana, livres de despesas. A prosperidade acabaria em 1972, quando um repórter da KTRK-TV fez uma série de denúncias sobre o prostíbulo.
As pressões da opinião pública foram tantas que o então governador Dolph Briscoe foi obrigado a mandar fechar as portas do negócio de Edna, em 1973.

Em 1977 dois advogados nativos compraram os direitos ao nome e a casa. Transportaram a construção original para o meio de Dallas e fizeram nela um restaurante. Daí surgiu a idéia do menu para os serviços atuais. Mas, sem as mulheres, quem iria ao Chicken Ranch? O restaurante fechou em 1978, para nunca mais renascer no Texas. Em 1982 a empresa Western Best Ltd comprou os direitos de uso da marca e montou o bordel atual em Nevada. Kenneth Green, gerente co-proprietário do empreendimento, diz estar querendo mudar de vida. “Já tive muitas lutas, agora está na hora de descansar. É melhor sair por cima: neste ano ganhamos o título de melhor bordel do Estado de Nevada”, disse Green.

ISTOÉ foi ao Chicken Ranch como muitos historiadores, profissionais e amadores, que fizeram pesquisas in loco. O bordel fica quase no fim de uma estradinha, asfaltada, mas poeirenta. São seis milhas pela Homestead Road. Percurso onde se encontra um pequeno cassino, ranchos de agricultores e vários trailers-residências com famílias pobres. A concorrência ao Chicken Ranch mora ao lado, no prostíbulo Mustang, que, segundo madame Peggy, “não atrai a mesma classe de freguesia”.

Ritual – O estacionamento leva a um pequeno portão de grade, no jardim, onde está uma campainha. Será um erro caro apertar o botão do dispositivo. Madame Peggy abrirá a porta principal e colocará para dentro os clientes. Isso significará momentos de constrangimento, quando o freguês aguardará sentado no sofá de chenile marrom e branco. Até que um esquadrão contendo de oito a 15 mulheres fardadas de lingerie se perfilará como pelotão de fuzilamento. Individualmente, cada uma será apresentada. Caberá ao incauto cavalheiro escolher aquela que lhe apeteça mais. O casal seguirá para o quarto da moça, a não ser que prefira um banho de jacuzzi ou um dos três bagalôs temáticos: vitoriano, safári e velho oeste. Há também uma pequena câmara de torturas para aqueles que extraem prazeres da dor. Do menu oficial será feito o pedido.

Melhor entrar pelo bar: “Aqui no bar a gente pode negociar os preços. Por US$ 300
dá para fazer um meio-a-meio”, disse a morena Karen a ISTOÉ. Ela estava em companhia de Pamella, uma pequena de cabelos castanhos, olhares tristes e com letras árabes tatuadas no seio esquerdo. Perguntada sobre o significado do grafite, traduziu: “Quer dizer Jihad (guerra santa muçulmana). Meu namorado me mandou tatuar.” O que prova que até islamitas beatos frequentam a casa. Enquanto não viram mártires e recebam as 72 virgens a que têm direito no paraíso, vão se consolando no Chicken Ranch. Trata-se, como se vê, de um negócio das Arábias.