23/06/2004 - 10:00
Um sabonete é para limpar e perfumar, certo? Nem sempre. Há também os que divertem, encantam, fazem sonhar. Pelo menos é esta a sensação que se tem ao passar em frente a uma das lojas que a marca inglesa de cosméticos Lush tem espalhadas pelo Brasil. A mistura dos cheiros, das cores e das formas dos sabonetes, saches, xampus, cremes e tantos outros produtos toma os sentidos. E faz acreditar que o banho realmente não é mais o mesmo. Criada há dez anos e no Brasil há cinco, a Lush reinventou o conceito de sabonete. Para ter uma idéia, uma das estrelas da grife são uns sais em forma de bolas efervescentes que explodem na banheira feito um alka-seltzer gigante? Os bath ballistics, como são chamados, não só cumprem a função básica de um sabonete como também divertem quando se dissolvem ruidosamente colorindo e espalhando essências relaxantes na água. O que faz um dos principais diferenciais da Lush é essa obsessão por jamais permitir que os hábitos diários de higiene e beleza sejam sinônimo de monotonia ou obrigatoriedade. Não é surpresa, portanto, o sucesso da marca no Brasil, país tropical em 70% de sua área e com tradição de alto consumo de cremes, hidra-
tantes – e banhos. Segundo a sócia-diretora da Lush no Brasil, Sandra Isper
Rocha, a meta mundial para os próximos quatro anos é passar de 242 lojas
para mil. O mercado brasileiro será brindado com boa fatia desse crescimento. “São 16 pontos-de-venda entre São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Hori zonte e vamos chegar a 32 até 2008, expandindo para outras cidades”, diz ela. A diretora também comemora a entrada de novos consumidores: “Começamos com clientes da faixa AA e agora recebemos também a classe média. Conseguimos nos transformar em luxo possível.”
Vários fatores contribuem para isso. A origem de muitos deles está na própria fábrica da empresa, em Poole, sofisticada cidade à beira-mar na Inglaterra. Na pequena e tranquila High Street, o galpão da Lush poderia ser confundido com uma feira se não fosse o perfume no ar. Bananas, abacates, gengibre, flores, sementes, verduras, chocolate e óleos estão em todos os ambientes e um detalhe chama a atenção: todos têm o selo orgânico e parecem ter saído da horta há poucos minutos. Em total sintonia com os anseios da sociedade moderna – cada vez mais adepta de produtos sem agrotóxicos e serviços contra o stress –, a Lush é 100% natural e todo o processo de feitura dos mais de 250 itens é artesanal: cremes, sabonetes, xampus e hidratantes. Em entrevista a ISTOÉ em seu escritório em Poole, Helen Ambrosen, uma das fundadoras, reafirma a opção pela produção ecologicamente correta: “Não compramos de fornecedores que fazem testes em animais.” E, após explicar que é possível ter maior controle de qualidade em produtos feitos à mão, ela sacramenta a filosofia que baliza a empresa: “Sabemos que as máquinas podem produzir mais. Mas preferimos dar trabalho a pessoas do que a máquinas.”
Crianças – Uma das novidades que vão chegar às lojas até o fim do ano é a linha infantil. Um fato curioso cerca os talcos e sabonetes das crianças: os produtos foram testados no próprio bebê de Helen. Hoje com 17 anos, o garoto foi cobaia das primeiras fórmulas elaboradas especialmente para a cabeça de recém-nascidos. “É muita responsabilidade fazer produtos para bebês, levamos anos aprimorando. Fiz testes no meu, que tinha dermatite no couro cabeludo”, conta ela. A linha infantil também terá seu diferencial: sais de banho para que os pequenos consumidores cresçam associando o hábito ao prazer. Outros lançamentos que deverão agradar em cheio o público brasileiro, sempre exposto ao sol, é o Ultralight face protector, hidratante facial com filtro solar, e os Lips, hidratantes labiais com cores e brilhos. E uma surpresa bem ao estilo Lush: pasta de dentes naturais com sabores diversos e embalagens bem pequenas para, segundo Helen, “estimular as pessoas a trocar todo dia e se divertir com o hábito.”
best-sellers eleitos pelo público brasileiro receberão reforço, como as linhas
Karma e Ginger, com perfumes, sais, óleos e espumas à base de patchouli e gengibre, que vão contar também com loção e desodorante. Tudo isso será comercializado até o Natal. Mas há novidades que acabaram de chegar às lojas e têm o status de mais vendidos no mundo, como os sabonetes Ooh La La decorado com ramos de lavanda e botões de rosa, tão lindos que dá pena de usar. Mas as propriedades convencem: feitos com uvas vermelhas (para amaciar a pele) e alecrim (que regula a secreção sebácea), fazem milagres na pele – e no ego. A despeito de não serem baratos – uma barra de Ooh La La, por exemplo, custa R$ 22 –, os produtos são hits de vendagem.
A novidade com maior visibilidade é a campanha Think pink, que está colorindo vitrines, sacolas e toda a decoração de cor-de-rosa. Nas lojas e escritórios de Londres, como o charmoso ponto da Carnaby Street, todo o staff da Lush se veste na mesma cor. Atrás do visual há uma proposta, digamos, filosófica. Desde que o mundo se viu cercado de atentados terroristas e guerras, as perspectivas se tornaram sombrias e a empresa quer resgatar a alegria. “O mundo está cinza e queremos sugerir a emoção do rosa, a cor dos contos de fada, das transformações mágicas”, explica Sandra. Duas novas vedetes sintetizam a idéia: o Think pink ballistic, sal de banho efervescente rosa-choque com flores de açúcar no topo que, em contato com a água, explode em confetes em forma de coração. As guerras também provocaram outra mudança: os sabonetes explosivos que tinham o nome de “bombas” (bombs) agora são “balísticos” (ballistics), como referêrencia de “impulso forte.” Helen confirma: “Mudamos devido ao terrorismo.” Típica inglesa, bem-humorada e tão suave quanto os produtos que fabrica, ela tem estilo pessoal compatível com o que norteia a empresa, seja na Nova Zelândia, seja no Japão ou no Canadá. “Sou viciada em trabalho porque amo o que faço”, diz.
Emoções – Talvez Sandra Rocha tenha conseguido a representação da marca no Brasil, apesar de várias outras pessoas terem tentado antes dela, pela identificação com essa filosofia. Ela compara os rituais de banho da Lush a lições de vida: “Eu não vendo produtos, vendo emoções.” Muitas fórmulas pioneiras – como as dos xampus e desodorantes sólidos – são exaustivamente plagiadas, inclusive aqui. Para Sandra, isso não abala a venda: “Nossos consumidores não migram porque se sentem amarrados pela qualidade.” A clientela é majoritariamente feminina, mas é surpreendente o porcentual de homens que frequentam as lojas para comprar produtos de uso pessoal: 21%, contra 79% de mulheres. No início, compravam apenas os cremes de barbear, mas hoje compram de tudo e são “os consumidores mais vorazes de xampus sólidos”, segundo Sandra. Era só o que faltava para que a marca se firmasse como grife completa de beleza e higiene. Agora não falta mais.