29/05/2002 - 10:00
Tomar uma xícara de chá não é apenas um programa convidativo no inverno. Além do sabor, estudos indicam que a bebida pode proporcionar vários benefícios à saúde do coração. Pesquisa recente divulgada por cientistas do Beth Israel Deaconess Medical Center, em Boston, nos Estados Unidos, revelou que substâncias presentes nos chás verde e preto podem ser responsáveis ou pelo menos ajudar a diminuir a mortalidade entre pessoas que já tiveram um infarto e costumam tomar chá. O trabalho comparou dois grupos de indivíduos que haviam sofrido o problema. A conclusão foi que o número de mortes foi 44% menor entre os pacientes que beberam 14 xícaras de chá verde ou preto por semana em relação aos outros que não cultivaram esse hábito nos três anos e meio após o infarto.
Não é a primeira vez que um trabalho científico enaltece as propriedades do chá. Várias pesquisas feitas no Japão, nos Estados Unidos e na Índia, por exemplo, demonstram as qualidades antioxidantes (antienvelhecimento) dos chás verde e preto e procuram explicar a origem dos seus poderes medicinais. No caso da proteção cardiovascular, o benefício é atribuído a uma substância chamada catequina, encontrada tanto no chá preto como no verde. Os dois vêm da mesma planta, a Camellia sinensis. A diferença é que o verde conserva maiores quantidades dessa substância. “As folhas são fermentadas para produzir o chá preto e por isso perdem boa parte das catequinas. O chá verde seca naturalmente e preserva mais as substâncias ativas”, explica a nutricionista Luciana Ayer, do Rio de Janeiro. Alguns trabalhos indicam que a catequina age como um antioxidante potente. Ou seja, teria uma grande capacidade de neutralizar a formação de radicais livres, compostos relacionados ao envelhecimento das células. “Desse modo, os chás verde e preto teriam função preventiva nas doenças cardíacas e no controle do mau colesterol”, diz a nutricionista Luciana.
Há vários estudos indicando outras potencialidades da bebida. Um deles, ainda não concluído, sugere que o chá verde oferece efeito protetor contra o mal de Parkinson, doença cerebral caracterizada pela perda da coordenação motora e por tremores. A nutricionista clínica Mirian Topein, de São Paulo, no entanto, diz que não se deve depositar todas as esperanças no chá. Especializada em cardiologia, ela afirma que a bebida não livra ninguém de um infarto. “Se a pessoa fizer uma reeducação alimentar e tiver hábitos saudáveis, com certeza o chá será um ótimo complemento”, explica. Os especialistas também lembram que o exagero não faz bem. “É preciso tomar cuidado porque chá demais pode reduzir a absorção de outros nutrientes”, alerta Luciana Ayer.
De qualquer forma, a recomendação é aproveitar o friozinho do inverno, saborear uma boa xícara de chá e ganhar mais saúde. É o que faz a goiana Isabel Dias Neves, 65 anos, que gosta de frequentar locais especializados mesmo quando a temperatura não está tão baixa assim. Em férias no Rio, aproveitou para visitar a Casa de Chá do Centro Cultural Banco do Brasil, uma das mais tradicionais da cidade. “Quando estou em casa, apesar do calor de Goiás, costumo tomar o chá das cinco. Acho que fui inglesa em outra encarnação”, diz, brincando, entre um gole e outro de chá.