29/05/2002 - 10:00
O Brasil é um país onde as notícias relativas aos idosos não costumam ser muito boas. No entanto, ainda é possível se deparar com ótimas surpresas na atenção aos nossos velhinhos. Uma das mais recentes é o Centro Dia do Idoso, iniciativa da Prefeitura de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, que está mudando a vida de 15 pessoas com mais de 50 anos. Na verdade, trata-se de uma espaçosa casa adaptada para funcionar como uma creche, com a diferença de que, em vez de crianças, os alunos são idosos carentes da cidade. Na residência, há, entre outros cômodos, sala de leitura, posto de enfermagem e espaço com área verde.
A prefeitura busca os “alunos” em casa e, às 8h30, eles estão prontos para as atividades, depois de um bom café da manhã. Pela manhã, se exercitam e se divertem com jogos pedagógicos – os mesmos usados por crianças. Em seguida, almoçam e descansam. Até recomeçarem com as atividades da tarde, que incluem brincadeiras e pausa para uma história. “Eles também são atendidos por fisioterapeutas e uma médica, entre outros profissionais”, explica Maria da Graça Barbieri, coordenadora do Programa do Idoso, projeto da prefeitura local do qual o Centro Dia faz parte. Às 17h30, eles são levados de volta para casa. Por ser muito parecido com o esquema das escolas infantis, o centro foi batizado de “creche do vovô”.
A iniciativa causou uma revolução na vida dos idosos. No primeiro dia, muitos não queriam entrar no carro, com medo de serem levados para asilos. Hoje, quando o carro passa, estão esperando na porta. Mais do que isso, eles apresentam uma impressionante melhora na saúde. Nos dois meses de funcionamento da creche, eles engordaram e reaprenderam a andar sozinhos. Quando chegaram, estavam desnutridos e muitos tinham de ser carregados. Todos estão com as doenças crônicas – hipertensão, por exemplo – sob controle, e os índices de depressão, altíssimos no início do projeto, baixaram. É claro que a comida e o atendimento médico que recebem contam muito para a recuperação, mas há um fator decisivo para essa evolução: felicidade. “Eles estão felizes, e felicidade traz saúde”, diz a médica Ademildes de Lima, responsável pelo acompanhamento dos idosos.
De fato, basta olhar para os velhinhos para ver o quanto a vida deles está melhor. O sorriso aparece fácil no rosto e a disposição é surpreendente. Além disso, nota-se o aumento da auto-estima por meio de detalhes como o uso de brincos, cabelos cortados e roupas limpas. Uma das que não dispensam mais esses cuidados é Maria Neuza de Souza, 88 anos. Toda enfeitada, ela conta que na creche é ouvida e tem com quem falar. “Em casa, não falavam comigo”, lamenta. “Neuzinha”, como é chamada, foi praticamente abandonada pela família e mora sozinha em um barraco. Antes, para comer, dependia dos vizinhos. Agora, está cinco quilos mais gorda. E, sem dúvida, com a saúde da alma melhor.