23/06/2004 - 10:00
Paulo Maluf está mesmo na berlinda. No Ministério Público paulista, é investigado por improbidade administrativa, o termo técnico para desvio de dinheiro público. Na Polícia Federal, protagoniza papel principal em inquérito que apura a evasão e lavagem de centenas de milhões de dólares.
No Congresso Nacional, a CPI do Banestado, que investiga a remessa ilegal de recursos para o Exterior, está
prestes a receber cópia dos mais de cinco mil documentos obtidos pela Justiça da Suíça, sobre operações bancárias realizadas por Maluf e sua família, entre 1984 e 2001. O ex-prefeito paulistano está ainda na mira do Ministério da Justiça e da Secretaria de Negócios Jurídicos da cidade de São Paulo, que estudam a recuperação do patrimônio possivelmente desviado. Maluf, contudo, mantém sorriso de comissário de bordo.
Potencial candidato do PP à sucessão da prefeita Marta Suplicy (PT), Maluf não respondeu a nenhuma pergunta, mas foi extremamente respeitoso durante depoimento ao Ministério Público na semana passada. Depois de quase duas horas invocando o direito de só prestar contas à Justiça, saiu do prédio impassível, rodeado por correligionários e assessores, fazendo o sinal da vitória. No dia seguinte, recusou-se a comentar se os promotores haviam mostrado a ele uma carta à União dos Bancos Suíços, como afirmam. Datada de 16 de dezembro de 1996, dias antes de Maluf deixar a prefeitura paulistana, a carta manuscrita, em inglês, recomenda a transferência de todos os recursos – cerca de US$ 100 milhões – da conta da White Gold Foundation a seus quatro filhos, em partes iguais, para a conta da Durant International Corporation, administratada pelo mesmo banco, em Londres (leia fac-símile). “Digo e repito mil vezes. Eu não tenho e nunca tive contas na Suíça”, garantiu Maluf. “Essa carta é falsa.”
Cruzamento dos dados bancários também mostra que a White Gold Foundation abasteceu a conta da Durant International. De acordo com as investigações, Maluf e família mantiveram uma série de contas bancárias em Genebra, na Suíça, abertas em nome de empresas off-shores, como as duas citadas anteriormente, além da Abutera Foundation, Alyka Foundation, Blue Diamond, Lindsay Limited, Pérolas Negras e Timeless Investiments Limited. Essas contas começaram a ser fechadas em 2001, depois que o governo da Ilha de Jersey, paraíso fiscal no Canal da Mancha, bloqueou US$ 200 milhões do ex-prefeito. Maluf também nega ser dono desses recursos. Para um dos investigadores do caso, especialista em análises finan-ceiras, a hipótese mais provável é que, a partir de 2001, Maluf tenha transferido
boa parte da dinheirama da Suíça para Liechtenstein, um principado europeu com apenas 25 quilômetros de norte a sul e a fama de jamais quebrar o sigilo bancário de seus clientes. Não é à toa que, embora minúsculo, o país serve como sede para 75 mil empresas.