Com seu nome enfeixado num letreiro
idêntico àquele que exibe a palavra Hollywood em letras monumentais, o Reino de Tão Tão Distante é uma réplica medieval da meca do cinema. Pelas ruas de seu bairro chique sucedem-se lojas de grifes famosas, devidamente parodiadas, e mansões nababescas semelhantes às dos grandes astros do cinema. Só que agora, em vez de Nicole Kidman ou Catherine Zeta-Jones, os moradores famosos se chamam Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel. É para lá que, a contragosto, se dirige Shrek e sua mulher, a princesa Fiona, levando a tiracolo o Burro falador. Eles são personagens de Shrek 2 (Shrek 2, Estados Unidos, 2004), novo episódio do imbatível desenho animado da DreamWorks SKG, em cartaz nacional na sexta-feira 18.

Agora, o adorável ogro – voz de Mike Myers na versão americana e de Bussunda, na brasileira – sai do seu pântano favorito com a missão de conhecer os pais da noiva. Mas o Rei Harold e a Rainha Lillian obviamente não esperavam encontrar, no lugar do imaginado nobre valente, uma figura verde, desprovida de boas maneiras e dada a crises de flatulência. Para piorar a vida de Shrek, a neurótica Fada Madrinha, uma viciada em fast-food, não se revela exatamente boazinha. Mãe do almofadinha Príncipe Encantado, que está de olho no dote da princesa, ela recorre a todas as suas poções mágicas para tirar o ogro da jogada.

Seguindo o mesmo estilo das divertidas paródias dos tradicionais contos de fada, Shrek 2 tem tudo para satisfazer os fãs ao redor do mundo, mesmo sem os recursos tão imaginativos do primeiro desenho. Nos Estados Unidos, em apenas 18 dias em cartaz atingiu a marca dos US$ 300 milhões, quebrando o recorde anterior de Homem-aranha, que levou 22 dias para atingir a mesma cifra. Em entrevista por telefone a ISTOÉ, o produtor Jeffrey Katzenberg – que divide com Steven Spielberg e David Geffen as iniciais do estúdio Dreamworks SKG – minimizou os esforços da companhia de emplacar Shrek 2 como o mais bem-sucedido desenho animado desde O Rei Leão. “Fazemos os filmes apostando no melhor e procurando fazer o melhor que pudermos. Mas o surpreendente na produção de filmes é que a gente nunca sabe no que vai dar.”

Além das 72 cenas individuais a mais, este novo Shrek vem recheado de atrativos. A começar pela presença do personagem Gato de Botas – dublagem de Antonio Banderas –, um felino de cor laranja e charme de mosqueteiro, cujo sotaque espanholado não esconde as lições de esgrima com o mexicano Zorro. “Ele foi pensado para ser francês, uma espécie de D’Artagnan, mas se transformou quando cheguei com o meu sotaque”, disse Banderas. O charme do personagem vai além. Toda vez que Gato de Botas se vê em dificuldades, ele abaixa as orelhinhas e umedece os olhos negros e arredondados, desarmando qualquer mortal. Por estas qualidades, foi contratado pelo Rei Howard para dar cabo em Shrek. Mas o bichano acaba virando escudeiro do ogro, não sem enfrentar os ciúmes de Burro (dublado por Eddie Murphy), que o recebe com uma patada. “A vaga de animal falante já foi ocupada.” Ao final, já amigos, os dois fazem um impagável dueto de Livin’ la vida loca, de Ricky Martin.

Shrek 2 também melhorou na parte técnica. Por um sistema inédito desenvolvido pela DreamWorks SKG, chamado bounce shader, a luz do filme se distribui com incrível realismo, especialmente nas cenas interiores. Katzenberg, que anuncia para o fim de 2006 Shrek 3, ainda chama a atenção para outras conquistas da animação digital. “É incrível quando você observa a textura da pele dos personagens e como eles atuam. Se considerarmos que Shrek 2 foi feito com apenas três anos de diferença do primeiro, temos a medida de como as ferramentas estão se tornando cada vez mais poderosas.”

Trilha sonora – O melhor do desenho animado, contudo, é o humor repleto
de citações pop, mais endereçado ao público adulto que ao infantil. Quando
Rei Harold, por exemplo, encapuzado vai contratar os serviços do Gato de Botas
na Taverna da Maçã Envenenada, é recebido pela masculinizada barwoman Irmã Feia, que na versão original tem a voz do apresentador Larry King e na brasileira,
de Pedro Bial. Ao piano, Capitão Gancho toca Little drop of poison, de Tom Waits. A trilha sonora, aliás, também é cheia de referências, como quando Shrek,
Burro e Gato de Botas escolhem a taverna para curtir uma fossa e são brindados com People ain’t no good, de Nick Cave, outro partidário do som deprê. “Odeio segundas-feiras”, desabafa Gato de Botas com seu copo de bebida ao balcão.
O que dizer então de Pinóquio, que, depois de aparecer usando roupa íntima feminina e de realizar o sonho de ser uma criança de verdade, dança no melhor estilo Michael Jackson? Divertidíssimo.