Desde pequenos aprendemos que a linguagem
dos cachorros é au-au, a dos gatos, miau e a dos pássaros, piu-piu. Pois está na hora de rever esses conceitos. Rico, um cachorro border collie, uma
das raças mais inteligentes, mostrou ser capaz de compreender 200 palavras em inglês. O mais surpreendente é que a experiência sugere que a complexa habilidade linguística que se observa nas crianças ocorre em outras espécies, mas de maneira simplificada. Assim como os humanos, Rico realiza algo chamado fast mapping, o aprendizado de uma palavra após o primeiro contato com ela. Até hoje não se sabia se esse processo era desenvolvido a partir do aprendizado da linuagem, algo específico dos seres humanos, ou devido a mecanismos de memória e aprendizado, presentes em outros animais. Rico comprovou a segunda hipótese.

Ele foi apresentado a sete briquedos. Um mês depois, ainda se lembrava do
seu significado. Assim como uma criança de três anos, ele associa palavras desconhecidas a objetos partindo do princípio de que objetos familiares – como
bola e meia – já têm nomes. As limitações de Rico diferem das humanas apenas
em grau, não em tipo. De qualquer forma, a capacidade de aprendizado de uma criança é infinitamente maior que a de Rico. Uma criança de dois anos incorpora cerca de dez palavras ao dia. Ao ingressar na faculdade, seu vocabulário é de
60 mil palavras, incluindo nomes de pessoas, verbos e associações. Rico, que
tem 9 anos, compreende apenas nomes de brinquedos e, pelo que os cientistas observaram, associa cada nome à ação de ir buscar o objeto. Além disso, a única
voz à qual ele responde é a do dono, o que levanta dúvidas sobre seu verdadeiro grau de compreensão. “Não é preciso falar para entender muita coisa”, diz
Julia Fischer, chefe da pesquisa do Instituto de Antropologia Evolucionária Max Planck, em Leipzig, Alemanha.

Rico foi estimulado a reconhecer objetos desde os dez meses. Seus nomes
eram repetidos duas ou três vezes. A cada identificação correta, o cachorro era recompensado com cafunés. Seu vocabulário é considerado extenso se comparado ao de outros cães de sua raça, golfinhos, papagaios e espécies de macacos. O sucesso de Rico o colocou à frente dos chimpanzés, que têm alta capacidade de compreensão, mas nunca demonstraram esse tipo de aprendizagem.