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ALVO ERRADO
Valério tenta envolver o ex-presidente Lula, mas
o STF quer saber sobre contas no Exterior

Como um jogador de pôquer, o empresário Marcos Valério parece blefar quando está prestes a perder. Sua última cartada se deu em setembro, quando já antevendo a pena que lhe seria imposta pelo Supremo Tribunal Federal, visitou o procurador-geral da República para propor acordo de delação premiada. Prometeu fornecer informações por ele próprio sonegadas nos últimos oito anos. Apresentando-se sob as vestes de “réu colaborador”, Valério teria citado o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-ministro Antônio Palocci, além de mencionar novamente o assassinato de Celso Daniel, petista que administrava o município de Santo André em 2002. O depoimento segue em segredo. Marcos Valério prometeu apresentar documentos se as autoridades avalizarem o acordo. Mas, como o jogo de Valério é conhecido, suas propostas não sensibilizaram o procurador-geral, Roberto Gurgel. O relator da Ação Penal 470, ministro Joaquim Barbosa, que já havia classificado o empresário de “jogador”, também hesita levar a sério a proposta de colaboração do agora condenado. E, na verdade, o tipo de informação que o relator procura não chegou sequer a ser oferecido.

Joaquim Barbosa confidenciou a auxiliares que a investigação da Polícia Federal ficou emperrada quando os técnicos tiveram que analisar as contas das corretoras que faziam a lavagem de dinheiro do esquema. O ministro suspeita que o mensalão tenha usado contas no Exterior que nunca foram encontradas. Com base nesse raciocínio, acredita que o montante de dinheiro que aparece na investigação é muito inferior ao que foi, de fato, movimentado. O advogado Walter Bittar, autor do livro “Delação Premiada”, segue o mesmo raciocínio do relator. Ele explica que, no atual estágio do julgamento, a “contribuição mais relevante de Valério seria dar informações sobre contas que pudessem levar a Justiça a recuperar dinheiro do esquema”.

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Depois do susto inicial com o blefe de Valério, o PT se tranquilizou com a avaliação colhida no Supremo de que as palavras do empresário não seriam suficientes para produzir provas contra o ex-presidente Lula. Assim, aliados do líder petista passaram para a ofensiva. “Se o Marcos Valério tem alguma coisa, ele que diga concretamente. Se ele não apresenta é porque não tem”, afirma o ex-deputado Sigmaringa Seixas, amigo do ex-presidente. “Lula tem absoluta convicção de que não se encontrou com ele, nunca conversou. É evidente que Marcos Valério está magoado, está com raiva”, diz.