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Em plena semana de reeleição do presidente Barack Obama nos Estados Unidos, as salas de cinema do país exibem desde sexta-feira 9 o longa-metragem sobre um dos seus líderes mais representativos e que viveu no século XIX. O grande responsável por “Lincoln”, que estreia no Brasil em janeiro de 2013, é Steven Spielberg. Foi ele o encarregado de dar vida ao livro “Team of Rivals – The Political Genius of Abraham” (“Time de Rivais – O Gênio Político de Abraham”), da historiadora e vencedora do Pulitzer Doris Kearns Goodwin, conhecido como a biografia definitiva do 16º presidente americano.

A autora ajudou também na redação do roteiro final, ao lado de Tony Kischer, que havia trabalhado com Spielberg em “Munique”. A dupla deu ênfase à participação de Lincoln na Guerra de Secessão ocorrida entre 1861 e 1865 em que o norte industrializado acabou vencendo os Estados Confederados do sul defensores dos latifúndios e da escravidão. Foram seus últimos momentos, a considerar que cinco dias após o final do conflito o então presidente, que acabara de anunciar o direito do voto aos negros, havia sido assassinado por um confederado fanático.

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SUCESSÃO
O presidente reeleito Barack Obama observa retrato de Lincoln na Casa Branca

Os esforços do diretor e de seus roteiristas e o investimento de US$ 65 milhões teriam sido em vão se não fosse a presença fundamental de Daniel Day Lewis no papel principal. Ele, que recebeu duas vezes o Oscar de melhor ator pelas atuações em “Meu Pé Esquerdo” e “Sangue Negro”, tem boas chances de garantir a terceira estatueta na premiação do ano que vem. Substituto de Liam Neeson, que havia se preparado para o papel, mas em 2010 abandonou o projeto por “estar muito velho para interpretar o Abraham Lincoln de 56 anos de idade”, Lewis pesquisou discursos e anotações feitas pelo seu personagem para montar o que se vê na tela. “O legado de seus escritos é importantíssimo”, diz o ator em entrevista. “Você consegue compreendê-lo muito bem não só por seus discursos, mas também pelas histórias que ele costumava contar”, completa, se dizendo espantado do quanto a Casa Branca era acessível naquela época. “Era um lugar onde as pessoas podiam entrar e sair quando quisessem.”

Conhecer as virtudes de Lincoln foi o ponto de partida para Lewis, que, durante o processo, passou a moldar o personagem de um jeito obsessivo. Sally Field provou isso na prática. A atriz, que interpreta a então primeira-dama Mary Todd, começou, certa vez, a receber mensagens de celular assinadas por Abraham Lincoln. “Ouvia meu telefone tocar e de repente era algum tipo de anedota com a assinatura ‘A’ ”. Já Spielberg certa vez recebeu um recado em sua caixa postal eletrônica de alguém “com um sotaque de fronteira, mistura entre Illinois, Indiana e Kentucky, em uma voz de tenor”, como definiria o criador de “De Volta Para o Futuro”. Era o Abraham de Lewis o convidando: “Depois que ouvir isso me ligue para termos uma conversa?”

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"Lincoln discutia os dois lados de cada assunto. E era muito cuidadoso
com cada decisão a ser tomada. Na realidade, seus oponentes e inimigos
o criticavam constantemente por sua lentidão em decidir algo"
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Steven Spielberg

O diálogo ao telefone seria sobre o quanto Lincoln ensinou aos seus sucessores que, mesmo nos tempos de extrema polarização, o centro moderado é o caminho para o sucesso presidencial. “Ele discutia os dois lados de cada assunto. E era muito cuidadoso com cada decisão a ser tomada. Na realidade, seus oponentes e inimigos o criticavam constantemente por sua lentidão em decidir algo”, diz Spielberg, que a partir daquele dia passou a se referir a Lewis pela alcunha de “Senhor Presidente”. Meses antes, com a desistência de Neeson, Spielberg e Kushner voaram até a Irlanda para um primeiro contato com o ator britânico na cidade onde mora, próxima a Dublin. Com seu iPhone, o diretor tirou um retrato de Lewis perto da janela, de perfil. “Sua silhueta parecia a de um jovem Abe Lincoln”, recorda o roteirista. Eles haviam encontrado a outra face de Abraham Lincoln.

Fotos: Pete Souza/Official White House; Divulgação