Desde que a estilista francesa Coco Chanel (1883-1971) inseriu a pérola no contexto da moda, na década de 20, nunca mais essa jóia voltou para a concha do elitismo. Milhares de anos antes de Cristo, as pérolas eram valorizadas como símbolos de boa fortuna, amor, pureza. Há séculos, entretanto, é considerada a mais feminina das jóias, segundo o embaixador da H.Stern, Christian Hallot, e adorno dos mais cobiçados por mulheres de todas as nacionalidades. Nos dias de hoje, a história é outra: a pérola se populariza e multiplica. Fake, invade a moda e está na maioria das coleções de inverno. Versátil, combina com tudo, do jeans ao famoso tailleur de mademoiselle Chanel. Valem todas as cores – branca, cinza, amarela, negra, levemente azulada – e até algumas corruptelas, como o cobre. “A versão dourada é uma aberração do molusco. É rara e depende da casca da ostra, mas é linda”, diz Hallot.

No vestuário, a pérola salpinta sapatos, ornamenta bolsas, arremata detalhes, vira cinto, abotoa blusas. E, claro, é transformada em bijou de todas as formas. “É o jeito mulherzinha sendo resgatado. A Chanel está com tudo e a pérola foi celebrizada por ela”, diz a diretora de estilo da grife Folic, Valéria Gisler. “Não estamos tendo condição de atender à demanda”, completa. A estilista Nadja Tonelli, do ateliê Daniella Martins, atribui ao desgaste do “básico” o interesse pelo visual mais chique. “Estava todo mundo igual”, constata. A democratização do uso é, na opinião de Beth Nabuco, coordenadora de estilo da Animale, um dos motivos mais fortes da busca da gema. “Não há discriminação de idade ou ocasião. Pode ser usada com jeans, tênis ou scarpin. Serve à perfeição à tendência high low (termo inglês que conceitua a mistura de peças baratas com outras caras)”, explica.

A tendência já saiu das roupas e chegou às mesas sofisticadas. A carioca Odete Carvalho, designer da Toque, confecciona toalhas com aramado bordado com pérolas. “São resistentes, bonitas, dão dignidade ao ambiente”, registra ela. Mas, quando o assunto é a pérola verdadeira, aquela cultivada dentro do molusco, a abordagem é outra: não há modismo no segmento das jóias. “Um colar raro será sempre valioso, pois haverá cada vez mais mulheres desejando ter um”, explica Hallot. Segundo ele, jóias com pérolas são presentes extremamente femininos, comuns em datas como os 15 anos de vida ou a chegada de um filho. O embaixador pergunta: “Você já viu homem usando brinco, colar pulseira ou anel. Mas de pérola? Nunca.” Esse glamour é exclusivo da moda mulherzinha.