Planos de Fuga – uma exposição em obras/ Centro Cultural Banco do Brasil, SP/ até 6/1/13

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VERTIGEM
Cortina de Cristiano Rennó instalada no vão central do edifício

Em 1974, o artista americano Gordon Matta-Clark (1943-1978) empunhou motosserra e britadeira e dividiu ao meio uma casa da periferia de Nova York. A ação, intitulada “Splitting”, dava início a sua série de building cuts. Matta-Clark era formado em arquitetura, mas se celebrizou desmontando e perfurando edifícios. Sua “anarquitetura” foi determinante para mostrar que a arte não é unicamente aquilo que ocupa o espaço, mas é o próprio espaço, modificado pela intenção artística. Assim, Matta-Clark tornou-se uma baliza para artistas que têm a arquitetura como objeto de investigação. Hoje, ele compõe uma das bases de sustentação de “Planos de Fuga – Uma Exposição em Obras”, transferindo para o edifício do CCBB, em São Paulo, a instabilidade de sua anarquitetura.

A exposição reúne nove artistas contemporâneos e três “históricos”: Matta-Clark, Claudia Andujar e Robert Kinmont. O escritor Adolfo Bioy Casares poderia ter sido considerado o quarto artista histórico, na medida em que o título de seu romance “Plan de Evasión” (1945) foi apropriado pelos curadores da exposição, Rodrigo Moura, do Centro de Arte Inhotim, e de Jochen Volz, curador da Serpentine Gallery, de Londres.

Fuga e instabilidade são os dois conceitos-chave dessa exposição, que tem como tônica o conceito da liberdade. A fuga é a sensação regente da instalação do colombiano Gabriel Sierra, uma espécie de “não-lugar” (conceito do antropólogo Marc Augé para designar lugares de passagem, sem identidade definida). Seu trabalho funciona como um “negativo” do espaço expositivo, uma área vazia, de paredes móveis, onde o espectador não encontra nada além de fragmentos de memória de exposições passadas, que já ocuparam aquele espaço. A fuga também equivale ao efeito ótico produzido pela cortina de plástico, instalada por Cristiano Rennó no vão do edifício, endossando seu caráter vertiginoso.

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ARQUEOLOGIA
Paredes e chão descascados na instalação de Rivane Neuenschwander

A instabilidade está muito bem representada pelas instalações de Rivane Neuenschwander e Sara Ramo, que propõem experiências quase arqueológicas em relação ao edifício do CCBB, dialogando com muita intimidade com as escavações de Matta-Clark. Rivane, na obra sonora “The Conversation” (2010), aplicou materiais de revestimento às paredes e ao chão da sala, onde escondeu microfones. Como uma trama literária de perseguição e fuga, o trabalho consistiu em gravar todos os movimentos de uma pessoa que rasga e descasca impiedosamente o espaço, à procura dos aparelhos. Como resultado, o visitante encontra um espaço semidestruído, com a trilha sonora de uma busca.

Fuga e perseguição também determinam a instalação de Sara Ramo, no subsolo, onde se encontra a caixa-forte do antigo banco. A obra – uma das melhores jamais produzidas nesse espaço – consiste em um ambiente labiríntico que se assemelha a um canteiro de obra inacabada, repleto de dejetos e resquícios das vidas daqueles que supostamente trabalhariam ali – operários, mineradores ou ladrões. Altamente sugestivas, as instalações de “Planos de Fuga” oferecem ao espectador vias de escape da vida ordinária.