A principal preocupação do jovem brasileiro é com o desemprego. Aqui e ali, as filas dos que concorrem às vagas disponíveis no mercado não param de crescer. Nem tudo, porém, é má notícia. É possível, sim, vislumbrar uma pequena luz no fim desse túnel. Alguns profissionais, bem antes de completarem 30 anos, já alcançaram posições privilegiadas nas carreiras que escolheram. De uns anos para cá, caiu a idade média dos executivos de grandes empresas. É o que aponta uma pesquisa da Catho, de São Paulo, empresa especializada em recursos humanos. Se até 1997 a idade média de um gerente, por exemplo, era de 41 anos, em 2001 passou para 38. Na prática, é fácil encontrar pessoas com pouco mais de 20 anos que tomam decisões e fecham negócios representando grandes corporações.

A realidade de hoje é resultado de uma reviravolta que ocorreu há pouco mais de quatro anos. O ano 2000 foi um divisor de águas, de acordo com Antonio Brito, vice-presidente da Catho. “A mudança começou em 1999, com o surgimento das empresas de internet. Especialistas se demitiram e abriram novos negócios. Além de contratarem jovens familiarizados com as tecnologias, suas vagas foram ocupadas por uma nova safra de executivos.” Em 2001, veio a retração natural depois do boom, e muitas empresas fecharam. O mercado se assentou, mas a revolução estava feita. No darwinismo profissional, sobreviveram aqueles que ensinaram seus chefes a anexar documentos em e-mail em vez de passar fax. “Em cinco anos, houve redução de dois anos na idade para alcançar certos cargos. Foi uma quebra de ritmo semelhante à que veio depois dos yuppies americanos, no final dos anos 80”, completa Brito.

Até mesmo a falta de experiência pode significar uma vantagem. O pouco tempo no mercado, para algumas empresas, vale ponto, já que o profissional não tem vícios trazidos de outras corporações. Ana Cláudia Saba, 23 anos, é representante da Absolut Vodka no Brasil. Ela entrou na empresa aos 19, quando ainda cursava publicidade. Como foi “criada” na casa, desenvolveu métodos próprios e logo se adaptou à cultura da marca. “Eles não querem muita burocracia e por isso preferem jovens, que também não trazem costumes e vícios de outras empresas”, comenta Ana Cláudia. Outra vantagem que ela destaca é a de já estar acostumada a tecnologias mais recentes: “Numa estratégia de divulgação, além das mídias tradicionais, penso logo em cinema, sites, festas, rádios virtuais. As pessoas da minha idade sabem usar todos os meios disponíveis de forma eficaz”, completa ela.

Para deslanchar na carreira e alcançar um cargo executivo antes dos 35 anos, é importante começar a trabalhar na área escolhida antes do final da faculdade. E vale tudo: estágio, programa de trainee e cursos práticos. De acordo com uma pesquisa do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), o estágio é importante para ingressar e manter-se no mercado de trabalho: 42% dos estagiários disseram que a experiência os deixou mais seguros e 41% garantiram que melhoraram a postura e aprenderam a se comportar no trabalho. O mesmo levantamento constatou ainda que 49% dos estudantes que fazem estágio são contratados pelas empresas.

Além de terem ingressado no mercado cedo, os jovens executivos têm outra característica peculiar: disponibilidade em tempo integral. Com apenas 31 anos, o carioca Roberto Honczar, formado em administração de empresas, já tem dez anos de experiência no mercado. Aos 21, viu no jornal um anúncio de uma vaga de trainee num banco e se candidatou. Foi contratado e não parou mais: trabalhou dois anos numa empresa em São Paulo, seis meses em Barcelona, na Espanha, já tem MBA (com especialização no setor energético) e, aos 27 anos, virou gerente de uma multinacional. Hoje, ele controla toda a parte financeira e administrativa da Enguia Power – holding produtora de energia com três termelétricas no Brasil – e tem seis funcionários sob seu comando. Honczar diz que a carreira está em primeiro lugar em sua lista de prioridades. Solteiro e sem filhos, está pronto para viajar a qualquer momento e costuma resolver problemas da empresa também nos finais de semana. “Quando você tem motivação, trabalha com prazer”, explica ele.

Outra apaixonada pelo que faz é Ana Paula Luz, 28 anos, gerente de marketing e vendas da luxuosa marca de cristais e jóias Baccarat. Como os outros jovens executivos, ela começou a trabalhar antes de se formar. Ana conta que é muito importante ser arrojado e persistente. “Noto que as mulheres que deslancham na carreira ainda jovens têm algumas coisas em comum: são muito femininas, têm o trabalho como hobby e amam o que fazem”, define. Ela acha que o jovem na empresa é uma ferramenta de imposição de mudanças. “A gente não tem a hierarquia muito arraigada. Essa questão já foi resolvida por gerações anteriores. Assim, as coisas ficam mais dinâmicas”, analisa. Ana Paula diz que, apesar disso, o convívio com profissionais experientes foi fundamental. O ideal é isso mesmo: misturar, numa equipe, profissionais jovens com mais velhos. O presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew, diz que as empresas já perceberam que o ideal é o equilíbrio. “Ao se colocarem barreiras de faixa etária perde-se porque exclui pessoas mais experientes. Numa empresa, a diversidade é importante para a produção”, analisa ele.