Quando se fala em avanços no tratamento
do câncer todos ficam de orelhas em pé. Drogas que mudem o curso da doença são esperadas com ansiedade por pacientes, familiares e médicos. Mas o fato é que nem sempre a esperança se resume a um remédio novo. Durante o 40º Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, o mais importante da área no mundo e que ocorreu na semana passada em New Orleans (EUA), dois estudos de destaque revelaram que o docetaxel (nome comercial Taxotere), um medicamento adotado na quimioterapia, é capaz de reduzir em 24% o risco de morte nos portadores de câncer de próstata.

O remédio já é adotado com sucesso no combate a tumores de mama e pulmão. Uma das pesquisas teve o brasileiro Mário Eisenberger, médico da conceituada instituição Johns Hopkins, de Baltimore, como um dos autores. Na prática, descobriu-se que, em média, é possível ganhar mais dois meses de vida. O medicamento foi eficaz para os doentes que não respondem mais a uma terapia à base de inibidores de hormônios, uma das formas utilizadas para combater o câncer de próstata. Esse resultado pode não parecer um grande avanço, mas para a ciência é um passo importante. “É o primeiro estudo que mostra que a quimioterapia pode aumentar a sobrevida desses pacientes. E isso é significativo”, afirma Eisenberger. O outro trabalho com o docetaxel que se destacou no congresso foi o do médico americano Daniel Petrylac, do New York Presbyterian Hospital. “Agora o remédio passa a ser uma opção real de tratamento”, garante.

Mais uma droga disponível hoje nas farmácias pode se transformar em valiosa arma contra o mal. Neste caso, o medicamento é um dos mais prescritos no mundo, porém para evitar doenças cardiovasculares. Pesquisadores da Universidade de Michigan encontraram relação entre as estatinas (usadas para controlar o colesterol) e a redução do câncer colorretal. Eles acompanharam 3.342 pessoas. Os que tomaram regularmente o remédio tiveram 51% de redução de risco de desenvolver esse tipo de tumor, comparados aos que não fizeram uso do comprimido. “É cedo para sairmos receitando estatina como forma de prevenir este câncer, mas os dados são muito animadores”, comenta Stephen Gruber, o autor do estudo.

Na área da genética, os especialistas também têm o que comemorar. Cientistas da Harvard Medical School, por exemplo, descobriram que a alteração em dois genes associados ao câncer de mama pode diminuir a eficácia do tamoxifeno, um medicamento que previne a recorrência da doença. “Se confirmarmos esses resultados com novos trabalhos, abriremos uma porta para desenvolver um teste genético que determine em quais pacientes o tratamento será eficiente e quais vão precisar de outra droga”, explica Dennis Sgroi, um dos responsáveis pelo estudo. Até o momento nenhum teste desse tipo é aplicável, mas a expectativa é grande. “Hoje para sabermos se um remédio vai ser eficiente, o doente precisa tomá-lo e esperar. Com esses testes conseguiremos determinar isso antes” explica o médico Howard Mcloed, da Universidade de Washington.