16/06/2004 - 10:00
Quarta-feira-9, 8h55min da manhã.
Nesse exato instante o ministro- chefe da Casa Civil, José Dirceu, deixava as crises e divergências do governo para uma nostálgica viagem de 43 anos no tempo. No distante ano de 1961, Waldomiro Diniz não existia, salário mínimo problemático era só o dele, à época um office-boy duro, e só havia vampiros nas telas dos cinemas da avenida São João. Essas lembranças tomavam a mente do ministro na chegada ao prédio ocupado pela universidade UniFMU, situado na rua Taguá, 150, no bairro da Liberdade, centro de São Paulo. Nos anos 60, neste mesmo endereço, funcionava o colégio Paulistano. Ali, Dirceu cursou o científico, hoje o equivalente ao curso médio. A visita foi uma retribuição ao convite feito pelo presidente da UniFMU, Edevaldo Alves da Silva.
Ao percorrer os corredores do velho colégio, o ministro recordou os tempos em que nem na utopia mais desvairada imaginava ser um dos homens mais poderosos da República. “Morei aqui ao lado, na pensão do Abelardo. Ganhava tão pouco como office-boy que às vezes tinha que ir trabalhar a pé. Apesar das dificuldades, sinto muito saudade daquele tempo”, rememora. Dirceu não poderia se esquecer de São Paulo. Falou com carinho da cidade que o recebeu aos 15 anos, já imensa para um mineiro recém-chegado da pequenina Passa Quatro. “Tenho saudades daquela São Paulo de 1961. Tempo bom, em que a gente tomava cerveja sentado na calçada da avenida São João.”
Pena, para o ministro, que a viagem ao túnel do tempo foi interrompida em pleno curso. Os assuntos do governo têm pressa e não permitem devaneios. Em entrevista a um programa de tevê produzido pela UniFMU, Dirceu ressaltou a necessidade de o governo investir em educação. “Precisamos triplicar a escolaridade média do brasileiro, passá-la de quatro para 12 anos. É necessário dobrar o número de vagas no ensino médio. Temos 11 milhões de jovens fora da escola.” O ministro respondeu às insinuações de que viveria uma crise de relacionamento com o prestigiado colega da Economia, Antônio Palocci. “É viver de ilusão achar que há um racha entre eu e o Palocci”, afirmou. Bateu firme ao dissipar qualquer dúvida em relação a uma suposta falta de empenho de sua parte na tarefa de auxiliar Palocci e o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, na cruzada para aprovar o novo salário mínimo no Congresso. “Sou um soldado do Aldo (Rebelo) e tenho uma lealdade canina ao presidente Lula”, disse o saudoso escudeiro Dirceu.