O brasileiro tem problemas com sua auto-estima. Ela é baixa. O presidente Lula
já gastou litros de saliva em seus discursos tratando do assunto e prometendo soluções. É certo e óbvio que a maior causa do flagelo está nas vergonhosas diferenças sociais há tempos instaladas no País. Aponta-se para a escravidão, da qual só nos livramos formalmente no final do século XIX, como uma das raízes históricas do problema. Também há quem diga que nossos irmãos argentinos não padecem do mesmo mal por não terem convivido com a escravidão e com seus efeitos perversos nas relações sociais. Eles não têm problemas com sua auto-estima. Pelo contrário, sua dificuldade está em controlar uma certa arrogância. Maradona lá é Deus, Pelé aqui, nem tanto. No Brasil temos dificuldade em valo-
rizar nossos ídolos. Nossa cobrança é muito maior. A má fase de Guga, nosso
maior tenista, tem mais peso que seus três títulos em Roland Garros. A aparên-
cia robusta de Ronaldo, o Fenômeno, também faz brilhar os olhos de jornalistas muito mais do que suas jogadas geniais. Rubens Barrichello, apesar de piloto
da mística Ferrari, é apenas o segundo. Só é primeiro na inspiração para as infindáveis piadas que circulam.

A mídia tem uma boa parcela de responsabilidade nisso tudo. Eliane Lobato, da sucursal de ISTOÉ no Rio, foi à França e entrevistou um escritor abominado pela crítica especializada brasileira. Eliane conversou com um simpático brasileiro que, segundo a revista britânica Publishing Trends, foi simplesmente o autor mais vendido do mundo em 2003. Nosso patrício Paulo Coelho atingiu, no ano passado, ainda segundo a Publishing, a fantástica marca dos 65 milhões de exemplares vendidos em quase mil edições diferentes. Os sentimentos que tal fato devem provocar são o de orgulho e o de prazer em tê-lo como compatriota. E isso deveria ser um antídoto contra a inveja do sucesso alheio e uma boa injeção de vitamina para a nossa auto-estima.