16/06/2004 - 10:00
A quadrilha do governo
Em tempos de São João, vale lembrar o poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, segundo o qual “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”. Um desencontro total. Essa é a situação da turma mais próxima do presidente. No Planalto, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken, quer ver pelas costas o assessor de imprensa, Ricardo Kotscho, que simplesmente não se entende com o porta-voz, André Singer. Não é à toa que Lula tem reclamado da área de Comunicação. Mas a coisa não pára aí. Gushiken anda às turras com o chefe da Casa Civil, José Dirceu, que quer derrubar o coordenador político do Planalto, Aldo Rebelo, que é odiado pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha. Daí fica fácil explicar as encrencas na base governista. O pior é que o resultado da confusão pode atingir a economia: Aldo aliou-se ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci, cuja política econômica tem sido combatida por Dirceu, que se juntou ao presidente do PT, José Genoino, para ver quem, de fato, vencerá a disputa.
Pacto de silêncio
O tucano Tasso Jereissati (CE) (foto) foi procurado por
um petista pernambucano com alto cargo no governo
federal. A idéia seria um pacto de não-agressão entre
o atual ministro da Saúde, Humberto Costa, e seu anteces-
sor, José Serra. Ambos com bala na agulha para se imolarem publicamente.
Demora preocupante
Em 1999 no Chile, o presidente Eduardo Frei tinha uma decisão tomada sobre a compra de caças para seu país, mas deixou para o sucessor. E os chilenos acabaram ficando com aviões que precisam de autorização do país vendedor para voar. Aqui no Brasil, FHC fez como Frei, deixou a bola para Lula. A demora do presidente no anúncio está deixando apreensiva a cúpula do PT.
Caciques em baixa
Alguns dos caciques pefelistas não conseguiram lançar candidatos próprios às capitais de seus Estados. Foi o
caso do presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC) (foto),
Marco Maciel (PE), Roseana Sarney (MA), Hugo Napoleão (PI)
e Cláudio Lembo (SP).
Mordaça
Placar de 5 a 5 na reunião do Conselho Superior do Ministério Público, que discutiu
a exoneração do procurador Édson Abdon. Isso mesmo, aquele que investigou os grampos ilegais do governo da Bahia contra os opositores de ACM. O procurador-geral, Cláudio Fonteles, chegou a proferir a demissão. Mas Abdon recorreu e venceu: a lei determina que, em caso de empate, a cassação não vale.
Rápidas
• Foi muito dura a conversa entre José Dirceu e o presidente Lula na terça-feira 8. O chefe da Casa Civil teria dito que prefere deixar o governo se Aldo Rebelo continuar com a coordenação política.
• A guerra entre Aldo Rebelo e José Dirceu começou mesmo com a nomeação do assessor Fredo Ebling (PCdoB) para substituir Marcelo Sereno. Dirceu queria indicar o sucessor para continuar comandando a distribuição de cargos no governo.
• A rixa entre o presidente do PT, José Genoino, e o coordenador político do governo, Aldo Rebelo, vem do PCdoB. Ex-integrante do partido de Aldo, Genoino atribui aos comunistas ortodoxos os boatos contra sua atuação na guerrilha do Araguaia.
• Dois partidos aliados estão até a cabeça na guerra para manter Aldo Rebelo como coordenador político do governo: o PMDB, do senador Renan Calheiros e do ministro Eunício Oliveira; e o PSB, de Miguel Arraes e do ministro Eduardo Campos.
• A disputa entre os petistas Antônio Palocci e José Dirceu gerou uma piadinha nos corredores do poder: “Sobrou para o mordomo.” No caso, o mordomo é o ministro Aldo Rebelo, do minúsculo PCdoB.