Na semana passada, uma ação judicial reacendeu a polêmica sobre a segurança dos antidepressivos para crianças e adolescentes. O procurador estadual de Nova York, Eliot Spitzer, entrou na Suprema Corte Estadual
com processo contra o laboratório GlaxoSmithKline (GSK). Ele acusa a empresa de “perpetração de fraude de modo repetitivo e persistente”. A ação alega que desde 1998 a indústria se engajou num esforço para omitir dados ruins sobre os efeitos da paroxetina (Aropax) nos menores. O FDA, responsável pela liberação de remédios nos EUA, aprovou a droga só para adultos. O único antidepressivo liberado pelo FDA para fins pediátricos é a fluoxetina (Prozac).

Segundo o procurador, os médicos foram levados pelo laboratório a acreditar
que a paroxetina poderia ser usada para crianças com segurança. “O GSK fez
cinco estudos de adoção do remédio por essa população. Mas divulgou apenas
um, que mostra resultados mistos sobre a eficácia da droga”, disse Spitzer
a ISTOÉ. Os outros quatro indicavam resultados ruins e apontavam risco de
suicídio nesses pacientes, de acordo com o procurador. E teria feito coisa pior. “Enganou seus representantes propagando que o produto tinha ‘notáveis eficácia e segurança no tratamento de adolescentes depressivos’. Memorandos internos revelam uma política de esconder aspectos negativos”, afirma Spitzer. O GSK se defende. Segundo a empresa, a própria bula da droga menciona que o remédio é contra-indicado para os pequenos. Ressalta que estudos estão sendo feitos para ver se o remédio é seguro para os menores, mas que os resultados (apresentados ao FDA) foram negativos.

O uso de antidepressivos em crianças resvala em outra polêmica. No Brasil, nem a fluoxetina é oficialmente liberada para menores. Se um médico indicar a droga nesses casos, pode ser advertido pelo Conselho Federal de Medicina. Na prática, alguns especialistas recorrem a esses remédios em casos graves. “Muitas vezes não há opção. Mas fazemos avaliação e acompanhamento rigorosos”, diz a psiquiatra Lee Fu I, do Hospital das Clínicas de São Paulo. O médico Marco Antônio Brasil, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, recomenda: “As pessoas devem procurar psiquiatras que tenham prática e reconhecimento nessa área.”