23/02/2005 - 10:00
É comum pessoas que sonham atuar em projetos em benefício de sua comunidade se espelharem em nomes conhecidos hoje do terceiro setor como Oded Grajew, fundador da Fundação Abrinq e do Instituto Ethos; João Jorge, do grupo Olodum; Rodrigo Baggio, criador do Comitê de Democratização de Informática (CDI); ou Wellington Nogueira, coordenador dos Doutores da Alegria. Muitos se perguntam como eles conseguiram implantar e difundir suas experiências pelo País com tamanho êxito. Oded, João Jorge, Baggio e Nogueira são alguns dos 240 líderes de projetos sociais brasileiros apoiados hoje pela organização mundial Ashoka, criada em 1980 na Índia. No mundo, são 1.500.
A entidade, que atua em 52 países e foi fundada pelo americano Bill Drayton, tem como missão identificar e apoiar lideranças – os chamados empreendedores sociais – que possuam idéias criativas e inovadoras para superar problemas nas suas regiões, no seu país ou no mundo, em áreas como meio ambiente, educação, direitos humanos, saúde, cidadania e desenvolvimento econômico. O objetivo é investir em líderes capazes de provocar mudanças positivas e impacto social. Ashoka quer dizer “ausência ativa de tristeza”, em sânscrito, e era o nome de um imperador que comandou a Índia no século III antes de Cristo e teve um governo marcado pela justiça social e econômica e a pregação da não-violência.
Os escolhidos num processo de seleção passam a receber uma bolsa mensal para se dedicar inteiramente a seus projetos. O valor é definido de acordo com as necessidades de cada candidato, mas, no Brasil, a média é de US$ 1,2 mil (R$ 3,1 mil). “Nós investimos no indivíduo para que ele tenha plena condição de alavancar os recursos necessários ao seu projeto”, explica Vivianne Naigeborin, diretora internacional da organização.
Para os fellows, como também são chamados os empreendedores, a entidade oferece seminários, troca de experiências com outros empreendedores e a divulgação de suas iniciativas, além de programas de capacitação e consultoria com empresas multinacionais como a McKinsey & Company e a Hill & Knowlton. Assim, experiências de gestão e administração da iniciativa privada podem ser adaptadas para o setor social. A aliança com a McKinsey, iniciada no Brasil, gerou a criação de um Centro de Competência para Empreendedores Sociais e a experiência foi adotada em outros países. “O empreendedor social tem o mesmo potencial de profissionalização que o empreendedor de negócios”, diz Vivianne.
Geralmente, os líderes sociais obtêm o apoio nos primeiros anos de desenvolvimento de suas ações. “Mas precisam ter uma metodologia já testada”, esclarece Célia Cruz, diretora do escritório Brasil–Paraguai da Ashoka. Referência hoje na área de inclusão digital, Rodrigo Baggio, por exemplo, ensinava informática em duas escolas na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 1995, quando se tornou fellow. Hoje, seu projeto conta com 962 escolas em 11 países e atendeu, em dez anos, 600 mil estudantes.
Para ser um dos eleitos e fazer parte da rede, no entanto, não é fácil. Os candidatos passam por uma rigorosa avaliação, na qual especialistas identificam as idéias inovadoras e o potencial dos pretendentes. Exige-se uma idéia nova, criatividade, personalidade empreendedora, impacto social da proposta, ética e confiabilidade. Mas é preciso ainda um algo mais. Os empreendedores costumam ser obcecados e visionários. “É aquele tipo que não dorme se não resolver um problema”, atesta Célia Cruz. O primeiro passo para se candidatar é apresentar uma pré-proposta, pelo site da Ashoka (www.ashoka.org.br). Mas candidatos também podem ser recomendados. São feitos dois processos de seleção ao ano e não há prazo determinado para a inscrição. Só no Brasil, cerca de 600 propostas são apresentadas ao ano e 17 novos integrantes são aceitos. A Ashoka não recebe verbas de governos e tem entre seus doadores e parceiros as fundações Ford e Avina, a empresa Natura, o Instituto Camargo Corrêa e a Fundação Belgo-Mineira, além de nomes como o príncipe Charles. Uma de suas principais preocupações hoje é o apoio a projetos de geração de renda na comunidade.