O céu não tem sido de brigadeiro para a aviação brasileira. Os maus presságios de agosto atingiram setembro e nos dias 30 passado e 3 deste mês seis aeronaves sofreram pane. Entre os incidentes houve uma queda, que matou 23 pessoas no Acre. O ar pesado atingiu também a classe política. No Brasília, da Rico Linhas Aéreas, que se espatifou a cinco quilômetros da pista do Aeroporto Internacional de Rio Branco, estavam na lista dos mortos o deputado federal tucano Ildefonso Cordeiro e sua mulher, Arlete. A luz vermelha acendeu também para Lula, candidato a presidente pelo PT, e para Paulo Maluf (PPB), candidato ao governo de São Paulo. Quase ao mesmo tempo, viveram panes no ar, na terça-feira 3, e tiveram até que interromper a campanha e voltar com os jatinhos, um da TAM e dois da Líder Táxi Aéreo, para o aeroporto de Congonhas, de onde decolaram.

O dia 30 de agosto foi trágico: dois pousos forçados de aeronaves da TAM no interior de São Paulo e a queda do Brasília no Acre. Às 10h45, um Fokker-100, com problemas no combustível, desceu em uma fazenda em Birigui. Quatro dos 24 passageiros ficaram feridos. Por volta do meio-dia, outro Fokker da TAM teve problemas no trem de pouso e aterrissou de barriga no Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Passageiros e tripulantes nada sofreram. “As aeronaves foram revisadas em julho e nenhuma delas tinha qualquer antecedência de problemas em vôos anteriores.” À noite, o mais grave acidente. Com 31 pessoas a bordo, o vôo do Brasília teve um fim trágico em Bujari, a 4,5 quilômetros da pista do aeroporto de Rio Branco. Morreram 23 passageiros. Apenas oito sobreviveram ao acidente.

Até as 18h, o vôo que decolou de Cruzeiro do Sul para Rio Branco corria tranquilo. A serenidade durou pouco. Ao se aproximar do aeroporto, às 18h05, o comandante Paulo Roberto Tavares recebeu o sinal positivo da torre para aterrissagem. Próximos à pista, mecânicos da Rico ouviram o barulho da aeronave e acabaram sendo testemunhas não só da tragédia, mas de um fenômeno raríssimo. Alimentadas por uma corrente de massa fria, fora do comum na região nesta época, as nuvens das queimadas se transformaram em nuvens mais perigosas, que encobriram repentinamente a pista. Em segundos, o tempo na Grande Rio Branco fechou. O comandante alinhou a aeronave, mas não conseguiu avistar a pista. Instalado a cinco quilômetros do aeroporto, o instituto de meteorologia da Universidade do Acre indicava visibilidade mínima e nebulosidade máxima.Voando baixo, o avião chocou a asa esquerda em dois cajueiros antes de cair. A aeronave pipocou e deslizou a mais de 300 Km/h num pasto. Peritos do Departamento de Aviação Civil (DAC) de Manaus que investigam o acidente trabalham com duas hipóteses: ou o Brasília foi jogado para baixo por uma rajada de vento ou Tavares teria baixado demais o avião para escapar das nuvens e avistar a pista.