02/10/2002 - 10:00
Gustavo Kuerten e Paulo Cleto estrearam juntos, em 1996, no torneio parisiense de Roland Garros. Nas quadras de saibro, Guga fez boa campanha na fase de qualificação, mas foi eliminado na estréia pelo sul-africano Wayne Ferreira por 3 sets a 0. Àquela altura, nem mesmo o especialista dono do mais fino faro poderia prever o estrago que aquele surfista magricela de 19 anos, cabelos rebeldes e uniformes psicodélicos, causaria nas edições seguintes da disputa, tida por muitos como a mais charmosa do circuito. No mesmo ano, o ex-jogador Paulo Cleto cobria, para o Jornal da Tarde, o primeiro dos sete Roland Garros de seu currículo de colunista. Apesar da experiência de ex-jogador e de técnico, Cleto foi mais um a se surpreender com o tricampeonato do garoto no torneio (1997-2000-2001) e com as atuações do brasileiro em Paris, ponto de partida para o surgimento do Furacão Guga no tênis mundial. Os três títulos e a história do catarinense no Aberto de Paris foram transformados por Cleto em Gustavo Kuerten e Roland Garros – uma história de amor (Banco do Brasil/Instituto Takano, 288 págs., R$ 95), um dos mais belos e curiosos livros de arte com tema esportivo editados no País.
Cleto liderou dois trabalhos de fôlego. O primeiro foi selecionar e aprimorar histórias retiradas das colunas escritas por ele durante os torneios, de 1996 a 2002. O segundo foi selecionar 380 fotos entre as mais de dez mil reunidas. O esforço teve recompensa. “Tentei mostrar que estar em Paris para o Roland Garros é muito mais do que simplesmente acompanhar uma disputa esportiva”, informa o autor.
Entre uma e outra história saborosa, descobre-se, por exemplo, que, em 1997, Guga comparava as vitórias que desembocaram no primeiro título a tipos de ondas, manobras e praias boas para a prática do surfe. O duro triunfo sobre o austríaco Thomas Muster, o “Animal do Tirol”, na terceira rodada, por exemplo, foi batizado de tubo, por causa do “longo mergulho e da saída para a vitória”.
A vitória seguinte, contra o ucraniano Andrei “Urso” Medvedev, recebeu o nome de G-land, referência às ondas difíceis das praias de Gradjagan, na Indonésia. Os 3 sets a 2 impostos sobre o russo Yevgeny Kafelnikov, nas quartas-de-final, foram “uma linda onda de direita, na Praia Mole (em Florianópolis), com todas as gatas assistindo na areia”.
Há espaço também para as aventuras de outros tenistas famosos. Caso da russa Anna Kournikova, flagrada por Cleto enquanto se acabava na noite parisiense após o torneiro deste ano. Aliás, há uma bela foto da tenista na página 57 do livro. A imagem revela um uniforme coladinho. A musa está cansada. Mas todo rapaz admirador da moça, ao ver a foto, perde o fôlego de vez.