Na quarta-feira 16, o Banco Central aplicou outra amarga dose do
polêmico remédio que vem administrando há seis meses. Subiu a taxa de juro básica da economia (Selic) em mais meio ponto porcentual, atingindo os 18,75% ao ano, o mais alto nível desde outubro de 2003 (19%). A decisão não surpreendeu. Economistas, analistas financeiros e empresários estavam certos de que a elevação viria, assim como é generalizada a aposta em um novo aumento em março. A fixação do BC em cultivar os juros mais altos do planeta já repercute nas ruas. Em uma rara união, na mesma quarta-feira, sindicatos de trabalhadores e entidades patronais protestaram contra o aperto em frente à sede do Banco Central em São Paulo. O protesto foi irreverente, mas as consequências da política monetária são sérias. Renovam-se os temores da indústria de que o crescimento de 2005, estimado pelo mercado entre 3,5% e 4%, acabe pendendo para medíocres 3%, um resto de expansão econômica herdada de 2004. “Se a decisão de elevar as taxas se estender para o segundo trimestre, a atividade e o ritmo de crescimento ficarão comprometidos”, adverte o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Armando Monteiro Neto. “Se o BC queria desacelerar um pouco, já conseguiu. Agora, tem que tirar o pé do freio”, reage Julio de Almeida, diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Do que cada vez mais se duvida é que o BC consiga, com os juros altos, convergir as previsões inflacionárias do mercado, hoje em 5,74%, para a meta de 5,1% que a instituição persegue.

A insistência do BC em atingir a meta vem alimentando novas discussões sobre os motivos pelos quais o juro sobe, mas as projeções de inflação não cedem. Nas últimas três semanas, as baterias se voltaram para a política fiscal do governo, que em 2004 aumentou as despesas em 10%. O Executivo estaria alimentando a economia com seus gastos, o que obrigaria o BC a elevar os juros além da conta para reduzir a atividade econômica. Para empresários, essa política concentra o custo do combate à inflação sobre o setor privado. Mas o governo rebate: “A política fiscal em 2004 foi consistente e prudente. Fizemos uso do aumento de arrecadação”, diz o secretário do Tesouro, Joaquim Levy. Ele lembra que, exatamente para não pressionar a economia, o governo aumentou o superávit nas contas públicas, de 4,25% para 4,6% do PIB. Outros dizem que a culpa é do aumento do crédito para a baixa renda. “ Não tem nada disso. A inflação está em queda, mas o processo é lento mesmo. É mais difícil fazê-la cair do patamar de 7% para 5%, porque já são níveis muito baixos. O BC precisa ter mais paciência e admitir que 5,7% ou 5,9% são bons resultados”, diz Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor da instituição, alinhando-se com o economista e senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que há mais de um ano repete: “O erro original está na meta, ambiciosa demais.”

Custo Caro: a cada meio ponto, a despesa com a dívida pública cresce R$ 2 bi; as previsões para o PIB caem; e as expectativas de mais emprego e renda diminuem