No período de sua guerra declarada à gravadora Warner Music, o cantor e compositor americano Prince, 45 anos, fez questão de assinar seus álbuns com um símbolo impronunciável. Em público, assumia
a atitude performática trazendo escrita no rosto a palavra slave (escravo, em inglês). Intimamente também exagerava. Amigos e empregados só podiam chamá-lo de O Artista, idiossincrasia que levou a imprensa a perversamente tratá-lo de “o artista antes conhecido como Prince”. Após ter se libertado do contrato com a Warner, o músico de Minneapolis reassumiu o nome de nascimento e passou a lançar por seu selo NPG extravagâncias como o álbum triplo Crystal ball (1999) e o instrumental N.E.W.S (2003), este composto de apenas quatro faixas, ambos comercializados só pela internet. Em outros discos, ele ainda se escondeu sob o nome de seu grupo, o New Power Generation. Descontadas as estranhezas, seu talento continuou o mesmo, mas as estratégias o tiraram da mídia.

Consequentemente, começou a vender muito menos, embora garanta ter embolsado mais dinheiro do que na época de sua ligação com a multinacional do disco. De volta a uma grande gravadora, a Sony Music, com o estimulante Musicology, Prince não mudou uma gota do estilo. O que já é uma grande notícia. Vem com o mesmo som festeiro, ou seja, uma mistura incandescente de pop, rock, funk, rap, jazz e soul que hoje está na matriz do badalado duo OutKast. Mas não interprete o novo disco como um retorno artístico. Para Prince, a expressão está no índex. “Gostaria de pedir às pessoas para me explicar de onde elas acham que estou voltando”, ironiza. Bem, o certo é que desde a tomada do poder das paradas americanas pelo rap e pelo rhythm’blues açucarado, essa é a primeira vez que Prince galga direto os primeiros lugares da revista Billboard. E, como de hábito, ele dá um show de megalomania. Toca todos os instrumentos e faz todas as vozes na maioria das 12 canções. Entre os raros parceiros, abre exceção para Maceo Parker, habitual colaborador de James Brown. É dele o sax luxuoso que aparece no blues On the couch.

A presença de Parker não é gratuita, já que Prince homenageia explicitamente James Brown e também os grupos Earth, Wind & Fire e Sly and The Family Stone na faixa-título. Com sua linha de baixo acompanhada de metais, órgão vintage e vocais marcados por gritinhos e palavras de ordem, a música é um funk à moda antiga. Afinal, Prince se diz formado pela geração de Curtis Mayfield e Marvin Gaye. “Sinto falta de composição. Não tem muita música na produção atual. Apenas groove (balanço).” Daí a ironia do título do CD, que soa como um manual para interessados. Do funk turbinado Life ‘o’ the party ao soul estilo Al Green Dear mr. man, passando pela balada romântica Call my name, Prince se mostra em perfeita forma.