Os terroristas da Al-Qaeda imitaram os ursos: hibernaram durante o outono e inverno nos Estados Unidos, mas acordaram nesta primavera. E despertaram hiperativos: os serviços de inteligência americanos verificaram nas últimas semanas o maior fluxo de comunicações entre radicais islâmicos desde os detectados antes dos atentados de 11 de setembro de 2001. Entre as informações pinçadas em mensagens colocadas na internet estão indicativos de que um grupo de sete militantes altamente perigosos estaria tentando entrar no país, ou pior, já se instalou no território. As suspeitas são de que grandes ataques foram planejados para a temporada de verão, que começa em junho, culminando em novembro, às vésperas das eleições presidenciais. O secretário Tom Ridge, do Departamento de Segurança Interna, ordenou vigilância redobrada do aparato de segurança nacional, embora não tenha elevado o grau de ameaça na escala colorida de indicação de alerta (atualmente na cor amarela, significando nível elevado). Há quem duvide do timing desses avisos. O virtual candidato democrata à Presidência, John Kerry, por exemplo, manifestou suspeitas de que o clamor de agora tenha sido engendrado para melhorar o patamar de popularidade do presidente George W. Bush, que despenca nas pesquisas de opinião pública mais recentes.

O que existe de mais concreto é que dessa vez, ao contrário de alertas anteriores, as autoridades americanas divulgaram uma lista de possíveis alvos, além de dar nomes e fisionomias aos suspeitos. Os objetivos visados pelo terror vão desde a reunião do G-8, conferência entre líderes dos países mais ricos do mundo, que acontece no Estado da Geórgia, em junho, até as convenções partidárias – a dos democratas em Boston, no mês de julho, e a dos republicanos em Nova York, em agosto. Além de grandes eventos, estariam também na alça de mira da Al-Qaeda pontos fracos do país, como os sistemas ferroviários, shopping centers e parques de diversões, por exemplo. Fotos de terroristas que integrariam a força-tarefa para as ações foram divulgadas pelo FBI, juntamente com currículos e possíveis pseudônimos usados pelos indivíduos. Entre os sete indicados estão dois africanos acusados de participações nos atentados às embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia, em agosto de 1998. São eles o comorense Fazul Abdullah Mohammed, 30 anos, e o tanzaniano Ahmed Khalafan Ghailani, 30. Cada um tem a cabeça a prêmio por US$ 25 milhões. “Fazul fala diversas línguas, inclusive é fluente em inglês. Ele nasceu na República Islâmica de Comores, mas morou muito tempo no Quênia. Usa roupas ocidentais, no estilo hip-hop americano, e gosta de bonés de beisebol. Expert em informática, ele é responável também por aspectos de logística, como providenciar cartões de créditos roubados via internet, documentos falsos, etc.”, diz uma fonte de ISTOÉ no birô de investigações americano.

Na cacofonia da comunicação da Al-Qaeda na internet, as autoridades acreditam ter colhido algumas indicações sobre o modus operandi dos terroristas. A primeira é a possível escalação de um americano na equipe. Adam Yahiye Gadahn, 26 anos, é um convertido ao islamismo e poderia ser usado como intérprete ou auxiliar de logística aos estrangeiros. “Adam Gadahn é procurado por sua participação em ameaças aos Estados Unidos. Mas nós não temos nenhuma informação sobre conexões deste indivíduo com alguma organização terrorista específica”, diz o diretor do FBI, Robert Mueller. Uma novidade aventada pelos serviços de inteligência americanos é o acompanhamento de famílias (mulheres e crianças se passando por esposas e filhos) aos homens que tentariam penetrar no país ou já estariam no território. Essa inclusão serviria como disfarce, na esperança de que uma família inteira chamaria menos atenção do que um homem viajando sozinho.

A rede dos seguidores do líder radical Osama Bin Laden, sabe-se, abrange todo o planeta. E esta amplitude é responsável por uma suspeita que, curiosamente, envolve o Brasil. Na lista divulgada pelo FBI está o saudita Adnan El Shukrijumah, 25 anos, também com cidadania guianense. Na descrição de suas características consta que ele tem “nariz pronunciado”. Uma fonte de ISTOÉ na divisão de contraterrorismo da Polícia de Nova York diz que provavelmente esta qualidade distintiva na fisionomia deveria ser mudada, acrescentando-se a informação de que Adnan pode ter feito uma operação plástica. “Existe uma foto de Shukrijumah com sacolas de compras, numa rua de Ciudad del Este, no Paraguai. Calculamos que a imagem foi feita em 2003. Segundo informações do serviço de inteligência argentino, Shukrijumah teria ido a Foz do Iguaçu, no Brasil, para ter seu nariz alterado numa cirurgia plástica”, disse a fonte. Acrescentou, porém, que esta operação não foi comprovada. Shukrijumah já tentou entrar nos Estados Unidos diversas vezes, com passaportes de Trinidad, da Arábia Saudita e do Canadá. E, se algum brasileiro esbarrar com ele em território nacional, é bom que saiba: o governo americano oferece uma recompensa de US$ 5 milhões por informações que levem à captura deste procurado. O FBI, porém, avisa que o homem deve ser considerado perigoso e pode estar armado.