Um palco, um texto e uma platéia são só o que um grupo de jovens especiais precisa para mostrar que as adversidades não acabam com a alegria de viver. Ao contrário, o Grupo Cadeirantes realiza um trabalho teatral com bom humor e muita arte sem se incomodar com os obstáculos. No ano passado, Deto Montenegro, 41 anos, um dos fundadores do Grupo Oficina de Menestréis – companhia-escola de teatro de São Paulo –, decidiu reunir pessoas portadoras de deficiência (PPD) para representar. “Minha intenção, desde o início, não era fazer caridade. Queria trabalhar o potencial artístico de cada um. A única diferença é que eles são cadeirantes e nós, andantes”, diz Deto. O projeto deu tão certo que Deto adaptou a peça Noturno – de autoria de seu irmão e sócio, o cantor Oswaldo Montenegro – para Os Cadeirantes. Eles se reapresentam em 18 de junho no teatro Dias Gomes, na capital paulista, e para o segundo semestre já estão montando o próximo texto, Good morning, São Paulo.

O teatro mudou a vida dessas pessoas. Elas criaram laços, aprenderam a viver em turma. “A gente se solta, troca experiências. Ninguém sabe do que é capaz, até experimentar”, diz Tábata Contri, 23 anos, uma das primeiras alunas. A amiga Carolina Ignarra, 25, faz coro. “Faço tudo com mais vontade, dou aulas de educação física e aplico o que aprendo na minha profissão de professora”, afirma Carolina. União é a palavra que usam para explicar o seu sucesso. Foram 14 apresentações entre dezembro de 2003 e março deste ano, com um público de três mil pessoas. Mas eles não querem ser vistos como bizarros nem ser poupados. Alex Porahy, 33 anos, pretende ser dublador e alega que seria difícil fazer um curso com andantes. Por isso, a oportunidade do Oficina veio ao encontro de suas aspirações. “Não somos uma lição de vida. Faço teatro porque gosto e por uma necessidade minha”, retruca. Todos concordam que correm atrás de seus sonhos como qualquer pessoa.

A maioria são jovens de classe média. Alguns dirigem carro, têm estilo,
vaidade e também enfeitam suas cadeiras. Adoram sair em bando para
a balada, como uma verdadeira tribo. Lotam elevadores de shoppings
e atravancam também seus corredores. Outro dia, embaraçaram os garçons
de uma grande lanchonete, que não sabiam como acomodar 30 cadeirantes
de uma só vez. Fazem sua própria inclusão social.

Eles querem participar, e não são os únicos. De acordo com o Censo 2000, do IBGE, cerca de 15% da população do País possui algum tipo de deficiência. São nove milhões de PPD em idade produtiva, dos quais 11% exercem atividade remunerada e apenas 200 mil têm registro em carteira. Esses brasileiros movimentam anualmente em média R$ 1 bilhão no mercado consumidor. Apesar do preconceito, da falta de acessos e informação, o Grupo Cadeirantes prova que as pessoas especiais superam seus limites diariamente, assumindo um papel ativo na sociedade, sem paternalismo. São estrelas que brilham tanto no palco como na vida.