Orestes Fernando Corsini Quércia, 36 anos, filho do ex-governador Orestes Quércia (PMDB), está iniciando sua caminhada onde a história do pai começou: é candidato a prefeito de Campinas, lançado pelo PL. Nesta entrevista, ele fala do relacionamento com o pai e diz que, se for eleito, a história será outra: “São dois momentos históricos diferentes. O do meu pai foi de crescimento de Campinas e de sua valorização política. O meu será de recuperação da auto-estima da cidade e de seus moradores.”

ISTOÉ – Quando você soube que era filho do Orestes Quércia?
Fernando Quércia –
Eu sempre soube. Até 13, 14 anos tinha contato com
meu pai. Quando meu pai se casou, houve um corte. Depois de algum tempo,
fomos recompondo esse relacionamento. Quando eu já estava formado, já era delegado de polícia, nos aproximamos mais. Acontece que nunca cobrei nada
dele. Minha mãe também nunca cobrou.

ISTOÉ – Esse relacionamento peculiar com seu pai ajuda ou atrapalha
na sua pretensão política?
Fernando Quércia –
Para muita gente em Campinas, a lembrança do meu pai é muito forte. E tem me ajudado, principalmente na periferia. Eu percebo que os mais velhos comentam a semelhança física. Eles se levantam, querem me ver.

ISTOÉ – Como surgiu o político Orestes Fernando Corsini Quércia?
Fernando Quércia –
Eu não nasci político. Talvez traga no sangue, não sei.
Mas o que sei é que fiz minha vida como cidadão sozinho. Sem ajuda de meu
pai. Eu sempre corri atrás. Fui criando experiência como administrador de
negócios. Acertando, errando, levando porrada. Aqui em Campinas, às vezes
me perguntam: mas você nunca foi nada e já quer ser prefeito? Eu devolvo a pergunta: os candidatos que estão aí, que são deputados, vereadores, o que eles administraram de verdade? Nada!

ISTOE – Quércia sempre teve suas raízes no PMDB. E você vai sair candidato
pelo PL. Por quê?
Fernando Quércia –
Pelas mesmas razões de natureza pessoal. Eu não sou o Orestes Quércia. Nem quero ser. As pessoas têm que me conhecer pelas minhas propostas para governar Campinas, que não são necessariamente as dele. Quando falei com meu pai que gostaria de fazer política, ele ficou meio reticente. Imaginou que eu estivesse querendo um espaço no PMDB. Depois que eu mostrei que já tinha encaminhado as coisas independentemente do partido, ele mudou de atitude.

ISTOÉ – Como você avaliaria hoje suas chances de se tornar prefeito?
Fernando Quércia –
Eu tenho grandes chances. A vantagem maior é a rejeição do eleitorado à atual administração da cidade, de 78%.

ISTOÉ – E qual a razão de uma rejeição tão grande?
Fernando Quércia –
A violência. A insegurança. Campinas tornou-se, nos últimos anos, sinônimo de sequestro relâmpago, de tráfico de drogas, de local para cativeiro. O sumiço de 400 quilos de cocaína do IML foi um caso que marcou a cidade. A partir daí, Campinas entrou definitivamente para a rota do tráfico pesado. Atrás dele, sempre vem um rastro de outros crimes.

ISTOÉ – Sua experiência de delegado ajuda?
Fernando Quércia –
E muito. Na polícia, você aprende a raciocinar com a cabeça do marginal. Isso ajuda na hora de combatê-lo.

ISTOE – Como o eleitor de Campinas vai se comportar?
Fernando Quércia –
Há tempos, Campinas vem sentindo a necessidade de renovar sua política e seus dirigentes. Essa idéia, na verdade, veio com o Toninho. Ela não se concretizou – poderia até não se concretizar na prática – por causa de sua morte. Isso deixou um gostinho amargo na boca do povo.