02/06/2004 - 10:00
Os ares do Oriente fizeram bem ao presidente Lula. Os cinco dias que passou
entre Pequim e Xangai serviram para reforçar a posição de estadista buscada
pelo líder brasileiro e confirmar sua vocação para ser uma espécie de
caixeiro-viajante moderno. Além de consolidar parceria com um dos países
mais poderosos do mundo, Lula abriu frentes de negócios que podem injetar
bilhões de preciosos dólares na ainda fragilizada economia nacional. Com seu 1,3 bilhão de habitantes, tudo na China se mede em gigantescas proporções. Qualquer mordida no fabuloso mercado consumidor de lá é para ser comemorada em grande estilo por aqui. A comitiva de mais de 500 pessoas, formada principalmente por empresários, não teve tempo de contabilizar todas as oportunidades abertas com a retomada da rota do Oriente. A viagem, certamente, vai render muitos frutos: comerciais, políticos, culturais.
Mas, enquanto Lula fazia sua parte no Exterior, a economia brasileira, finalmente, dava sinais consistentes de recuperação. O mais importante deles: o crescimento de 1,6% do PIB no primeiro trimestre de 2004 em relação aos últimos três meses de 2003. Desde 1999 não se registrava salto parecido. Alguns analistas mais entusiasmados chegam a falar em crescimento acima dos 5% este ano. Mas os pessimistas insistem que nem a meta de 3,5% será alcançada. É esperar para conferir. Outros números da economia e as boas projeções para o comércio exterior parecem dar razão aos otimistas. As contas públicas vão bem, como comprovam os números do superávit primário, que atingiu em abril R$ 11,901 bilhões, o maior desde 1991, quando os dados das contas públicas começaram a ser apurados. No entanto, a discussão sobre a validade de tamanho esforço já começou. Parte dessa extraordinária economia poderia estar sendo usada para irrigar o mundo real, incentivando a criação de postos de trabalho e fomentando a distribuição de renda. Afinal, também existem os números oficiais para ser lamentados: o desemprego cresce e a renda do trabalhador encolhe.