Gabriela Azevedo Marques

Retrato: as opiniões dos alunos e professores da rede privada foram alvo de três minuciosos estudos

O mundo, as escolas e os alunos mudaram nas últimas décadas numa velocidade muito mais estonteante do que se poderia prever. E os professores, embora competentes e responsáveis na maioria dos casos, são tomados por uma certa nostalgia diante da necessidade de se adaptar a esse novo cenário. Essa é uma das grandes lições retiradas de três das maiores pesquisas já realizadas no País com estudantes e professores de escolas particulares, que acabam de sair do forno. A pedido do Sistema de Ensino Anglo, o instituto Pró Pesquisa Opinião e Mercado, de Campinas (SP), ouviu, nos últimos 20 dias, 1.602 professores e 18.577 alunos do ensino médio e do pré-vestibular e 5.492 alunos de 7ª e 8ª séries de 70 escolas das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, que concentram a maior parte dos dois milhões de matrículas da rede privada de educação do País. Todos foram submetidos a um longo questionário que incluiu faixa etária, estrutura e renda familiar, aspirações profissionais, expectativas, disciplina, internet e drogas, entre outros temas. “Fizemos uma radiografia ampla e fiel do ambiente escolar privado do País”, resume o diretor dos estudos e do Pró Pesquisa, Roberto Zammatano.

ASP - Pacal Fayolle/ EFE

Heróis: o ex-piloto Ayrton Senna e a ginasta Daiane dos Santos são os principais ídolos do ensino médio estudos

As pesquisas com jovens do ensino médio e docentes (leia quadros às págs. 6 e 8) vão, de fato, muito além da tarefa de mostrar o aluno otimista e o professor nostálgico. Há também uma grande quantidade de revelações importantes e curiosas. Praticamente três em cada dez alunos do ensino médio não desenvolvem nenhuma atividade além do ensino formal, quase 10% estudam música, 37,5% estudam inglês e 39,7% praticam esportes ou frequentam academia. Na opinião de 21,9% dos estudantes médios entrevistados, a frase que melhor os representa, em relação à carreira, é “Tenho dúvida sobre minha escolha”, seguida por “Não tenho nenhuma dúvida sobre minha escolha, por causa da minha família” (19,6%), “Estou em dúvida entre dois cursos” (16,5%) e “Não tenho nenhuma dúvida por causa da minha escola” (11%).

Quase 60% condenam qualquer sistema de cotas ou reserva de vagas na universidades públicas para estudantes pobres, negros, indígenas ou vindos de escolas públicas. Apenas 26,7% apóiam a idéia, “com critérios claros, para corrigir as injustiças sociais”. Um em cada dez alunos médios privados defende a liberação das drogas com o argumento de que “cada um sabe o que faz” e 21,9% deles acham que a sociedade é “hipócrita”, pois “admite drogas como o álcool e o cigarro, que fazem muito mais mal à saúde que outras”. Pelo menos dois dados são preocupantes. Quase 10% dos alunos privados de segundo grau admitiram que ainda não tiveram nenhuma orientação, na escola ou em casa, sobre Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. Entre os que tiveram algum tipo de esclarecimento, 54,6% disseram que procuram seguir os conselhos, mas admitiram ainda ter “grandes dúvidas” sobre o assunto. A lista dos maiores ídolos desses jovens é outro dos pontos altos da pesquisa. Numa prova da legitimidade da tese de que nossos ídolos ainda são os mesmos, defendida recentemente por ISTOÉ em reportagem de capa, o piloto Ayrton Senna, morto há dez anos, lidera fácil o ranking com 43% dos votos, seguido pela ginasta Daiane dos Santos (13,1%), o tenista Gustavo Kuerten, o Guga (7,3%), Pelé (5,9%), o atacante Ronaldo Fenômeno, do Real Madrid (5,3%), o pugilista Popó (4,2%), o técnico de vôlei Bernardinho (3,4%), o iatista Lars Grael (2,5%), o ex-jogador de basquete Oscar (2,3%) e o ex-craque Zico (1,8%).

On Line: a rede é uma ferramenta usada pela grande maioria dos alunos

Uma das surpresas mais bonitas da pesquisa foi a maturidade mostrada pelos 5.492 alunos de 7ª e 8ª séries. Apesar de estarem na faixa dos 12 a 13 anos, não fizeram feio. Quase 60% deles utilizam a internet para pesquisas, 37% queriam que o pai continuasse sendo como é (16% pedem que ele trabalhe menos) e 43,9% pensam a mesma coisa em relação à mãe, mas um terço deste grupo reclama que ela não os deixa sair como gostariam. Um quarto acha que a melhor solução para a violência é prender os criminosos, educá-los e devolve-los à sociedade. Os professores acham que os alunos de hoje estudam menos, mas grande parte da rapaziada atual encara com sucesso, nas universidades públicas, vestibulares bem mais concorridos do que os enfrentados pelos seus mestres. “Na média, pode ter havido um sistema de ensino médio mais denso e produtivo no passado. Mas hoje, em outras circunstâncias, existe uma turma que estuda muito mais do que seus mestres estudaram com a mesma idade, tanto que conquista vaga em disputas em que certamente muito de seus professores não conseguiria com o conhecimento da época de estudante secundarista”, opina Zammatano. Polêmica para as próximas pesquisas.

O QUEM PENSAM OS ALUNOS

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O QUE DIZEM OS PROFESSORES

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