26/05/2004 - 10:00
Na rede: Gomes da Silva sai do ministério direto para o camburão da PF
Em julho do ano passado, o ministro da Saúde, Humberto Costa, nomeou para a coordenação de Recursos de Logística o amigo Luiz Cláudio Gomes da Silva. A intenção era aumentar o rigor nas licitações, principalmente nas compras internacionais milionárias de hemoderivados destinados aos hospitais da rede pública. Quando foi secretário de Saúde da Prefeitura do Recife (entre 2001 e abril de 2002), o atual ministro tinha na direção financeira do órgão o companheiro Luiz Cláudio. Com menos de um ano no novo cargo, o amigo de confiança passou a coordenar um desfalque que começou em 1990 e já teria causado um prejuízo aos cofres públicos de mais de R$ 2 bilhões. Na quarta-feira 19, Luiz Cláudio e outros cinco funcionários do Ministério da Saúde saíram do trabalho, em Brasília, para a cadeia. Eles foram presos junto com empresários e lobistas pela Operação Vampiro, desencadeada pela Polícia Federal.
A PF também prendeu o servidor Manoel Pereira Braga Neto, assessor e primo de Luiz Cláudio. No Rio de Janeiro e em São Paulo foram pegos os empresários Marcos Jorge Pupkin, dono da Panambra Pitta, e Elias Abboadalla, representante da Baxter Hospitalar. Os policiais estão caçando os empresários Lourenço Peixoto, vice-presidente do Jornal de Brasília, Marcos Jorge Chain e Jaisler Alvarenga. A ligação entre os empresários e os servidores públicos era feita pelos lobistas Francisco Honorato, Armando Coelho, André Murgel, Eduardo Pedrosa e Romeu de Amorim, que atuavam na capital federal. “Se não tivesse mandado investigar o esquema, estaria funcionando até hoje. O que me surpreendeu e me decepcionou foi o fato de haver uma pessoa entre as que foram presas que eu levei para o ministério”, afirmou Humberto Costa, que interrompeu sua agenda em Genebra para voltar ao Brasil a pedido do presidente Lula.
A quadrilha praticava fraudes em licitações e superfaturamento na compra de hemoderivados para o Ministério da Saúde. Eles chegavam a pagar 42%
acima do valor real. Tudo isso sob a chancela de Luiz Cláudio. O produto
do roubo seria dividido entre os envolvidos. Luiz Cláudio é filiado ao PT do
Recife e no seu apartamento, em Boa Viagem, a PF encontrou US$ 22 mil, 7,5 mil euros e R$ 114 mil. Tudo em dinheiro. Já na casa de Rommel Pontes Peixoto, em Jaboatão do Guararapes (PE), foram apreendidos recibos de compra de obras de arte no valor de R$ 145 mil. Peixoto, que está foragido, é apontado pela PF como um dos principais integrantes do esquema. Ele, que atuou no esquema PC Farias, trabalhou na extinta Central de Medicamentos (Ceme) – onde foi condenado na Justiça também por fraudes. Seria ainda sócio dos lobistas Eduardo Pedrosa e Armando Coelho, também com prisão decretada. Além de antiga a quadrilha é tida como perigosa. A PF está investigando a ligação do bando com a morte do advogado Alcides Peres em 1996, em Brasília. O motivo do crime seria a divisão do mercado de medicamentos. Para desbaratar o bando, a PF utilizou escutas telefônicas e filmagens autorizadas pela Justiça.