A reportagem de capa desta edição traz revelações surpreendentes sobre a juventude brasileira. Juliana Vilas e Camilo Vannuchi, jovens e talentosos jornalistas da editoria de Comportamento de ISTOÉ, debruçaram-se sobre os resultados da extensa pesquisa feita pelo Instituto Cidadania – ONG fundada por Lula há quase 15 anos –, que ouviu 3.500 brasileiros e brasileiras na faixa de 15 a 24 anos. Seguindo os padrões do Censo do IBGE, residentes de todos os Estados do Brasil responderam às 158 perguntas que compunham os questionários, durante os meses de novembro e dezembro de 2003. Os números causam surpresa a quem está acostumado com as enquetes realizadas apenas nos grandes centros ou nas capitais, onde o perfil do jovem em relação ao uso de drogas, por exemplo, é bem mais preocupante. Pelo Censo do IBGE de 2000, cerca de 34 milhões dos quase 170 milhões de brasileiros têm entre 15 e 24 anos. A pesquisa do Instituto Cidadania revela que 90% deles nunca experimentaram maconha.

O resultado é também surpreendente por mostrar um jovem mais conservador
do que os estereótipos normalmente aceitos. A maioria é contra o aborto.
Só 20% são a favor. Eles condenam as campanhas feitas por grupos que
defendem temas polêmicos como a descriminalização da maconha, a união civil entre homossexuais e a legalização do aborto: 58% dos jovens ouvidos não gostam de nada disso. Apenas 16% dos que preencheram os formulários se consideram politicamente de esquerda. Somente 18% defendem os direitos humanos, mesmo para presos e bandidos.

O que não é nenhuma surpresa é o que mais preocupa esses jovens: 27% temem a violência. Em segundo lugar, também sem surpreender, vem o desemprego, que tira o sono de 26%. A pesquisa pretende ser uma contribuição para políticas públicas e está sendo acompanhada de perto pela Secretaria Geral da Presidência, que promete aproveitar seus resultados na formulação de programas. Não será nada fácil. No momento em que o governo comete o pífio aumento do salário mínimo, de R$ 240 para R$ 260, o estudo revela que 86% dos jovens que trabalham ganham, ou ganhavam em seu último emprego, menos de dois salários mínimos.