O português Carlos Lopes, diretor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil, divulgou na semana passada, durante um seminário sobre desarmamento no Rio de Janeiro, uma informação que esquenta o debate nacional sobre segurança pública: nada menos do que 11% de todos os homicidios do planeta são cometidos no País, que tem menos de 3% da população mundial. O número de vítimas da violência brasileira é maior que as perdas humanas produzidas pela guerra do Iraque.

Pelos cálculos da ONU, as armas de fogo produzem no Brasil cerca de 40 mil
mortes por ano. “Isso é mais do que o número de vítimas no Iraque. É impossível entender como um país em paz tem tantas mortes resultantes do uso de armas
de fogo. A ONU está preocupada”, disse. Segundo as informações oficiais dos Estados Unidos, 585 soldados da aliança internacional liderada pelos americanos morreram no Iraque, no último ano. As estimativas apontam para cerca de 17 mil mortes de iraquianos.

Lopes ainda traduziu em termos econômicos a tragédia da violência brasileira. Segundo ele, o governo e o setor privado gastam cerca de 10% do PIB brasileiro em medidas de segurança. “As empresas estão gastando R$ 70 bilhões por ano em segurança”, contabilizou, ressaltando o enorme impacto que investimentos dessa magnitude produziriam se fossem dirigidos a projetos sociais em um país onde um terço dos 175 milhões de brasileiros sobrevive com menos de um dólar por dia, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Dados recentes divulgados pelo IBGE indicam um aumento de 130% nas taxas de homicídio no Brasil entre 1980 e 2000.