05/09/2007 - 10:00
RISOS NA ESCOLA Lucas brinca com os amigos por causa da “janelinha”. Ele não tem medo quando o dente amolece
Os pais de hoje podem fazer um exercício de memória e lembrar como foi a troca dos dentes de leite pelos permanentes. Provavelmente, muitos vão se recordar da vergonha em exibir a famosa “janelinha” na escola. Mas isso ficou para trás. A criançada lida com naturalidade com essa fase e até acha graça em mostrar os espaços abertos na boca. “Os meus amigos brincam comigo e eu brinco com eles. É legal também porque a fada dos dentes deixa dinheiro no meu travesseiro”, diz o pequeno Lucas Soares, sete anos. Já caíram cinco dentes. A mãe, Ana Paula, orientou o filho quando os primeiros ficaram moles e explicou que era uma etapa do crescimento. “O Lucas não tem medo de o dente amolecer”, conta.
Parte desse comportamento se deve à maior atenção que os pais dão à dentição dos filhos. Se as mamães do passado chegavam a amarrar barbantes ou fios de linha para puxar os dentes moles – às vezes provocando dor –, atualmente elas sabem que o momento é de esperar pela queda sem forçá-la. Do contrário, é possível gerar um trauma se o pequeno enxergar no processo somente a perda, e não a troca. “O dente deve cair naturalmente e é preciso conscientizar a criança de que os pequenos estão dando lugar a dentes maiores e mais fortes”, esclarece a cirurgiã-dentista Marianne Mersson, de São Paulo, habituada a atender a garotada.
Os especialistas recomendam aos pais que fiquem de olho nos primeiros dentes permanentes, que nem sempre são os da frente, como alguns podem pensar. É comum que a estréia da nova dentição seja com o primeiro molar, que nasce entre os cinco e os seis anos. Ele fica no fundo, atrás de todos os dentes de leite, não substituiu nenhum outro e freqüentemente é negligenciado na escovação, o que pode levar à perda precoce de uma estrutura que deveria ficar ali por longa data. “É um momento importante porque a criança necessita de orientação para incluir o primeiro molar na higiene e não deixar formar a cárie”, alerta a odontopediatra Marta Fornasari, do Rio de Janeiro.
ESCOVAÇÃO Marta alerta para a higiene dos dentes permanentes do fundo
Por outro lado, pode haver uma certa tensão se a troca de dentição for tardia. “Quando os amiguinhos da escola ou do parque começam a trocar os dentes, os que ainda não iniciaram o processo podem ficar ansiosos”, afirma Marta. Isso ocorre também para os pais. De acordo com a odontopediatra, as crianças curtem o momento porque é uma das primeiras vezes em que se preocupam em estar em harmonia com o ambiente, o grupo. Se isso demora a acontecer, cresce a expectativa tanto nos filhos quanto nas mães, que costumam ligar para o dentista para saber se está tudo normal.
O período de mudanças na dentição ocorre dos cinco aos 12 anos. A primeira etapa envolve o nascimento do primeiro molar e a troca dos quatro dentes centrais inferiores e dos quatro centrais superiores, normalmente. Entre dez e 12 anos, vem a segunda parte, quando surgem os caninos, os pré-molares e o segundo molar. Ao final desse ciclo, a criança terá, então, dentição completa, com 28 dentes. É fundamental redobrar a atenção na higiene oral, na alimentação e no hábito de ir ao dentista de seis em seis meses.
Há uma situação para a qual também se deve dar atenção. As meninas tendem a apresentar uma preocupação maior com a estética. Se a troca de dentição for tardia – o que acontece com mais freqüência, já que a alimentação de hoje é multiprocessada, o que diminui a intensidade da mastigação –, ela pode ficar envergonhada com a queda. Principalmente se isso ocorrer quando a garota tiver entrado na puberdade. “A primeira menstruação pode vir com dez anos. Por uma questão hormonal e pela própria vaidade, ela pode sentir insegurança e medo”, diz a cirurgiã-dentista Marianne. Porém, esse quadro é de retenção prolongada do dente de leite. Não foi o que ocorreu com a esperta Beatriz Rodrigues, oito anos, do Rio. Ela está na última fase da troca da dentição e nunca achou feio ter a “janelinha”. “É engraçado ficar banguela”, emenda. A menina diz que todos os seus dentes de leite caíram naturalmente, exceto um, rendido pela pancada que levou de uma prima. A mãe, Elza, acompanha o processo atentamente, mas não interfere. “A gente não apressa. Meu filho mais velho, Mateus, hoje com 13 anos, teve de arrancar no dentista, mas com a Beatriz foi tudo normal.”
SEM ACHAR FEIO Beatriz não teve problemas de vaidade. A menina está na segunda etapa da troca dos dentes de leite
Segundo os especialistas, a primeira consulta com um dentista deveria ser com a erupção do primeiro dente de leite do filho, que em geral se dá entre os cinco e seis meses de vida. No entanto, muitos pais preferem deixar a visita para depois, quando o bebê completa um ano. Isso não quer dizer que eles não busquem informações. “Converso com muitas mães e a gente troca experiências”, comenta Cláudia Medeiros, de Campinas (SP). Mãe de Pedro Henrique, um ano, ela faz a higienização dos dentinhos com uma dedeira de silicone desde os sete meses do filho. Agora, irá comprar uma escovinha. “Ele não teve nada de dor ou incômodo com a erupção. Foi muito sossegado.” Embora reconheça que cada criança reage de modo diferente a essa fase, Cláudia acredita que mães mais inseguras com o momento acabam transmitindo mais stress ao bebê. A idéia, portanto, é ter calma e esperar. Afinal, é o processo natural da vida.