Em dezembro de 2002, mais precisamente no dia 5, ISTOÉ publicou longa reportagem de Amaury Ribeiro Jr. e André Dusek, repórteres de nossa sucursal em Brasília. Sob o título A nova maldição, ela denunciava, então, que uma reserva indígena em Rondônia possuía uma das maiores minas de diamante do mundo e que aquele tesouro era explorado pelo crime organizado. Na reportagem se lia que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Ministério Público e a Polícia Federal sabiam que os diamantes da reserva Roosevelt, dos índios Cinta Larga, atraíam contrabandistas. Os repórteres também revelaram, quase dois anos atrás, que os caciques Cinta Larga eram cooptados pelos grupos organizados e iludidos pelos contrabandistas com presentes caros, como carros importados e a porcentagem pela venda das pedras. Segundo o relato, soube-se também que os índios passaram a exigir um pedágio de R$ 30 mil pela entrada de cada máquina no garimpo. Amaury e Dusek constataram que as autoridades tinham conhecimento de que os contrabandistas desfilavam portando escopetas e armas de repetição, com celulares ligados a satélites e em aviões que aterrissavam em pistas clandestinas para recolher as pedras.

Os dois repórteres entrevistaram o então delegado de Espigão d’Oeste, cidade da região, que disse: “Essa mina é amaldiçoada, é a mina da morte. Estou cansado de tanta violência. Já pedi minha transferência para outro lugar.” Afirmou ainda o delegado que contabilizava àquela época, quase dois anos atrás, pelo menos 100 garimpeiros, índios e contrabandistas mortos. Dizia que as vítimas, em geral, eram garimpeiros que se arriscavam na reserva, sem pagar pedágios, sendo mortos por índios ou por jagunços contratados por contrabandistas.

A reportagem, porém, mostrava que nem tudo estava perdido. Havia, quase dois anos atrás, uma operação conjunta de vários órgãos federais, entre eles o Ministério Público e a Polícia Federal, que estava dando resultados. Na semana passada, Amaury Ribeiro Jr. e André Dusek voltaram à região. Junto foi a imprensa de todo o País para ver de perto o massacre de pelo menos 29 garimpeiros pelos índios Cinta Larga. O delegado de Espigão d’Oeste não estava mais lá, na “mina amaldiçoada”, como ele havia previsto. Também não estava lá a operação conjunta do Ministério Público com a Polícia Federal, desmontada pelo procurador-geral da República. Os repórteres entrevistaram, em Brasília, Guilherme Schelb, do MP, que participou da tal operação e disse “lamentar muito a equipe ter sido desmantelada”. Presente mesmo na reserva Roosevelt, dos índios Cinta Larga, só o caos, a corrupção, a morte e, principalmente, a criminosa incompetência das autoridades. Como havia sido denunciado por ISTOÉ. Quase dois anos atrás.