A administradora paulistana Rita de Cássia, 38 anos, é uma mulher prevenida. No final de 2000, ela detectou um tumor no seio esquerdo ao fazer o auto-exame. Teve de extraí-lo por meio de cirurgia. Os exames de manutenção mostram que está tudo em ordem. Nem por isso Rita dispensa a cautela, que se estende para a família. Ela conseguiu que suas irmãs Rosana, 37, e Regiane, 35, seguissem seus passos. As três passaram por um procedimento ainda novo na medicina: o aconselhamento genético.

O método pode identificar quais genes foram os responsáveis pelo aparecimento da doença e ainda avaliar o risco de uma pessoa saudável ter o problema. No primeiro caso, ao se detectar que partes estão danificadas, é
possível saber se os familiares têm os mesmos genes modificados no doente. Se isso ocorrer no câncer de mama, por exemplo, o parente examinado pode ter 80% de chances de desenvolver um tumor. Esse perigo é apontado por um teste específico de DNA (código genético humano). É ele que detecta os genes, digamos, vilões. Rita foi
submetida a esse procedimento há cerca de cinco meses, mas os resultados ainda não saíram.

O outro exame do aconselhamento genético é mais simples. Trata-se de um teste para saber qual o risco de uma pessoa com histórico familiar para a doença desenvolver o problema. Se o paciente com câncer não pôde fazer o exame de DNA, e seu irmão, por exemplo, deseja saber as chances de ter um tumor no futuro, ele pode recorrer ao método. Durante uma consulta, o médico checa toda a história do paciente. Ele confere, por exemplo, se a pessoa é fumante.

Os dados são lançados num programa de computador que traça a porcentagem de o indivíduo vir a apresentar o mal. As irmãs de Rita não quiseram esperar o resultado do teste de DNA da administradora e decidiram fazer a avaliação de risco. Foi detectado que Rosana tem 7,5 vezes mais chances de ter um tumor nos seios do que uma pessoa saudável. O índice de Regiane foi de 4,5. “Fiquei assustada, mas pelo menos já sei que preciso me prevenir”, diz Rosana. Elas fizeram a avaliação no Hospital do Câncer, de São Paulo, que oferece o teste para qualquer tumor. “Assim como o teste de DNA, a avaliação apenas é recomendada para suspeitas de câncer hereditário”, afirma José Cláudio da Rocha, geneticista da instituição. É o caso das irmãs. A mãe e uma tia já tiveram câncer de mama.

Embora seja relativamente recente no Brasil, a terapia vai ganhando espaço. Na semana passada, o hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, inaugurou um moderníssimo centro de oncologia que oferece o aconselhamento genético. O método já existia antes na instituição, mas só agora foi aprimorado. Hoje, é possível fazer no hospital os testes de DNA para os tumores de mama, intestino e tiróide, além da avaliação de risco para vários tipos de câncer. Se for descoberto que há chances de surgir um tumor no futuro, é hora de partir para a segunda etapa: a prevenção. No caso do câncer de intestino (que compreende o cólon e o reto), a pessoa terá de fazer, por exemplo, um exame (colonoscopia) a cada seis meses. Outra medida é usar remédios específicos. Quando o risco for para tumor na tiróide, é necessário tomar hormônios. Já para o câncer de mama, é possível fazer um acompanhamento com ultra-som a cada seis meses.

O novo procedimento representa uma vitória, já que permite que familiares comecem a fazer um tratamento preventivo mais direcionado e precocemente. “Cerca de 65% dos casos de câncer podem ser prevenidos se forem diagnosticados cedo. Imagine, então, quando o tumor ainda nem surgiu”, comenta Bernardo Garicochea, coordenador da área de aconselhamento genético do Sírio-Libanês. Apesar dessa vantagem, é importante ser cauteloso ao indicar o serviço. Na opinião da geneticista Patrícia Prolla, do Hospital Santa Rita, de Porto Alegre, o ideal é que o médico permita ao paciente tomar a decisão de ir adiante. “Existe a possibilidade de ele ficar deprimido”, explica. Segundo Patrícia, para evitar a depressão é preciso contar com a ajuda de psicólogos. Eles podem orientar a pessoa nesse momento. Há mais um porém em relação ao método: o preço. Quem tiver de bancar os exames gastará, em média, R$ 3 mil para o teste de DNA e R$ 250 para a avaliação. No caso do Hospital Santa Rita, o serviço pode ser oferecido ao paciente pelo SUS.

Evolução

O aprimoramento da quimioterapia oral e as experiências com vacinas foram alguns dos destaques do III Congresso Internacional de Cancerologia, que aconteceu em São Paulo na semana passada. Uma das vantagens da quimioterapia com pílulas é facilitar a vida do paciente. A tradicional consiste na aplicação de injeções e, às vezes, requer internação. “Com a quimioterapia oral, o doente não precisa ir ao hospital”, diz Charles Volgel, diretor do Câncer Research Network (EUA). A opção custa R$ 10 mil mensais. Já as vacinas (que estimulam o sistema imunológico a atacar os tumores) receberam um pedido de atenção. Elas são eficientes para uma parcela pequena de pessoas com câncer avançado. “Grande parte dos pacientes não se beneficia”, reforça Antônio Buzaid, oncologista do Hospital Sírio Libanês (SP). Mas é claro que há bons resultados. “Vários trabalhos mostram que as vacinas atuam bem contra o melanoma (tumor de pele)”, afirma Alberto Wainstein, do Hospital das Clínicas (MG).

 Estratégia combinada

U m estudo francês com 400 pacientes está mostrando que para combater certos tipos de câncer a saída é juntar estratégias tradicionais com alternativas modernas. Conduzido pelo francês Bertrand Coiffier, o trabalho envolveu quimioterapia e tratamento com o rituximab (do laboratório Roche), droga da classe dos anticorpos monoclonais. Ele apresentou resultados animadores contra o linfoma não-Hodgkin agressivo, tumor que ataca o sistema linfático. Coiffier esteve recentemente no Brasil para apresentar sua pesquisa e debater a doença, que atinge 1,5 milhão de pessoas no mundo.

 

ISTOÉ – Qual o resultado do seu trabalho?
Coiffier –
Os pacientes foram divididos em dois grupos. Uma parte deles recebeu a quimioterapia padrão e a outra usou a quimioterapia associada ao rituximab. A pesquisa durou cerca de cinco anos. O grupo tratado com a combinação das duas terapias teve uma redução do tumor em 76% contra 63% dos outros participantes. A taxa de sobrevida dos participantes que usaram quimioterapia com anticorpo também aumentou. Durante quatro anos, a maioria deles não teve nenhum problema sério de saúde. Porém, ainda é cedo para se falar em cura.

ISTOÉ – Por que a terapia com anticorpo é mais eficaz?
Coiffier –
A quimioterapia impede que as células cancerígenas se multipliquem. Sabemos que o anticorpo monoclonal elimina do tumor a proteína CD-20, que, alterada, colabora para o desenvolvimento da doença.